"Esquerda de Jardim"
2010/02/05 22:11
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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As inoportunas alterações à lei das Finanças Regionais impostas por Alberto João Jardim à República em contexto de grande exposição global da economia portuguesa tiveram a estranha cobertura da velha esquerda traduzida nos votos favoráveis do PCP, dos Verdes e do Bloco, que se somaram aos mais expectáveis votos do PSD e do PP.
Com as suas opções de voto na matéria em apreciação, PCP, Verdes e BE tornaram-se em termo práticos a “Esquerda de Jardim”.
Se dúvidas existissem sobre a teoria do inimigo principal que tolhe o raciocínio do PCP, dos Verdes e do Bloco de Esquerda, o seu incompreensível voto nesta matéria esclareceu mais uma vez que a sua prioridade é competir entre eles no esforço de dificultar a governação da esquerda moderna, preferindo ver o poder acolhido à direita, do que vê-lo entregue a protagonistas com sensibilidade social e valores progressistas.
Muitos alegam que face ao elevado deficit orçamental, o acréscimo provocado por esta lei é irrisório. No entanto, mais do que o valor, há dois sinais implícitos na legislação aprovada que são preocupantes e para os quais o apoio da velha esquerda é incompreensível. O primeiro sinal reside na injustiça relativa nela implícita. O segundo sinal radica na descredibilização internacional das instituições portuguesas num momento crítico nos mercados financeiros.
Face a um orçamento de grande contenção, que implica o congelamento dos salários na função pública e cortes inevitáveis em programas impulsionadores da economia real, que justificação tem a Esquerda de Jardim para embarcar na lei aprovada, em vez de propor por exemplo a imputação dum valor igual ao reforço de politicas sociais com impacto em todo o território nacional?
E estando Portugal sobre um feroz ataque dos especuladores internacionais, que interesse tem a Esquerda de Jardim em fragilizar as instituições e disseminar a mensagem de que o governo português pode não ter suporte político para assumir os compromissos de convergência necessários para afastar a pressão, com consequências que em última análise prejudicam sobretudo as famílias endividadas e as empresas financeiramente mais vulneráveis?
Entre o momento em que escrevo este texto, muito em cima do acontecimento, e o momento em que daqui a uma semana ele será publicado no Diário do Sul mediará um tempo em que se poderá aquilatar melhor as consequências políticas e económicas deste episódio.
Por agora, a intransigência do governo perante a irresponsabilidade da maioria de circunstância parece ter acalmado os mercados e controlado parcialmente o dano. Governo, Conselho de Estado e Presidência alinharam num sentido comum de defesa do interesse geral e de preservação da nossa economia. Será que esse relevante alinhamento será suficiente para contrapor as dinâmicas de luta pela liderança dentro do PSD e entre este e o PP no quadro da direita, curiosamente desenvolvidas sob uma banda sonora animada pela Esquerda de Jardim?
Mais do que uma certeza ou uma convicção, tenho o profundo desejo que assim seja, porque como diz o povo quando a onda furiosa bate na rocha quem se lixa é o mexilhão. Sobretudo o mexilhão mais pequeno e que supostamente a Esquerda de Jardim representa. Ou deveria representar.
Com as suas opções de voto na matéria em apreciação, PCP, Verdes e BE tornaram-se em termo práticos a “Esquerda de Jardim”.
Se dúvidas existissem sobre a teoria do inimigo principal que tolhe o raciocínio do PCP, dos Verdes e do Bloco de Esquerda, o seu incompreensível voto nesta matéria esclareceu mais uma vez que a sua prioridade é competir entre eles no esforço de dificultar a governação da esquerda moderna, preferindo ver o poder acolhido à direita, do que vê-lo entregue a protagonistas com sensibilidade social e valores progressistas.
Muitos alegam que face ao elevado deficit orçamental, o acréscimo provocado por esta lei é irrisório. No entanto, mais do que o valor, há dois sinais implícitos na legislação aprovada que são preocupantes e para os quais o apoio da velha esquerda é incompreensível. O primeiro sinal reside na injustiça relativa nela implícita. O segundo sinal radica na descredibilização internacional das instituições portuguesas num momento crítico nos mercados financeiros.
Face a um orçamento de grande contenção, que implica o congelamento dos salários na função pública e cortes inevitáveis em programas impulsionadores da economia real, que justificação tem a Esquerda de Jardim para embarcar na lei aprovada, em vez de propor por exemplo a imputação dum valor igual ao reforço de politicas sociais com impacto em todo o território nacional?
E estando Portugal sobre um feroz ataque dos especuladores internacionais, que interesse tem a Esquerda de Jardim em fragilizar as instituições e disseminar a mensagem de que o governo português pode não ter suporte político para assumir os compromissos de convergência necessários para afastar a pressão, com consequências que em última análise prejudicam sobretudo as famílias endividadas e as empresas financeiramente mais vulneráveis?
Entre o momento em que escrevo este texto, muito em cima do acontecimento, e o momento em que daqui a uma semana ele será publicado no Diário do Sul mediará um tempo em que se poderá aquilatar melhor as consequências políticas e económicas deste episódio.
Por agora, a intransigência do governo perante a irresponsabilidade da maioria de circunstância parece ter acalmado os mercados e controlado parcialmente o dano. Governo, Conselho de Estado e Presidência alinharam num sentido comum de defesa do interesse geral e de preservação da nossa economia. Será que esse relevante alinhamento será suficiente para contrapor as dinâmicas de luta pela liderança dentro do PSD e entre este e o PP no quadro da direita, curiosamente desenvolvidas sob uma banda sonora animada pela Esquerda de Jardim?
Mais do que uma certeza ou uma convicção, tenho o profundo desejo que assim seja, porque como diz o povo quando a onda furiosa bate na rocha quem se lixa é o mexilhão. Sobretudo o mexilhão mais pequeno e que supostamente a Esquerda de Jardim representa. Ou deveria representar.
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