Noites Brancas (De Saramago a St.Petersburgo)
2010/06/27 13:08
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Foi uma viagem marcante a que me levou recentemente até St.Petersbourg. Ao aterrar na monumental Cidade Russa fundada em 27 de Maio de 1703 por Pedro o Grande, o meu telemóvel estava inundado de mensagens que anunciavam a morte de José Saramago.
A viagem do aeroporto até ao hotel não pode deixar de ser uma retrospectiva cruzada entre a história duma maravilhosa cidade que já foi St.Peterbourg, Petrogrado e Leninegrado e a vida extraordinária dum personagem, que não me sendo pessoalmente simpática, marcou uma época da literatura portuguesa e exacerbou com maestria literária as contradições sociais, políticas, religiosas e até identitárias da condição de ser português.
St.Peterboug vivia por esses dias os dias mágicos em que o Sol permanece vivo noite dentro e nunca escurece verdadeiramente. Um tempo mágico designado por “noites brancas” em os milhões de habitantes recriam a história e recordam a magia da sua fundação espelhada nos reflexos do Rio Neva e nos muitos raios de luz sobre ele lançados pelos palácios, pontes e catedrais e pelos artefactos nele particularmente colocados para esta ocasião.
Numa das noites, misturado entre as gentes em magote junto à ponte da Santíssima Trindade, tendo o fabuloso Hermitage como cenário, vi como das profundezas da história emergia uma juventude rebelde, que não me surpreendeu pelo afã com que sublinhava o momento afogada em Vodka, Champanhe, Cerveja, mas me fez pensar pela aparente incapacidade de dizer qualquer palavra que não na língua materna e por um certo alheamento do belo e do clássico, trocado pelo sentido do imediato e do sensorial forte.
O convívio, pelo menos aparente, entre grandeza e decadência, desconstruindo o mito duma Rússia marcada sobretudo pela qualidade e disciplina da sua formação, trouxe-me de novo à memória Saramago, ele que na longínqua ilha do fogo extinto escreveu sobre quase tudo menos sobre o esmorecer da chama revolucionária da extinta URSS, hoje pairando pelas noites brancas como um fantasma que cruza o poder e a insegurança, o esplendor e o vazio, e aviva a incerteza forte sobre o papel da Rússia na nova ordem mundial.
A minha viagem a St.Peterbourg terminou como começou! Com uma aterragem e um lento activar do telemóvel, logo seguido dum assalto inusitado de mensagens.
Havia contudo desta vez uma diferença. Salvo algo de inesperado eu supunha qual a razão de tantos contactos. Durante o voo decorrera o Portugal – Coreia do Norte. Foram horas de ignorância sofrida. Receber agora tantas mensagens só podia significar que não fora um jogo normal … o que teria acontecido?
Paulatinamente fui percebendo a grande noticia … os golos iam chegando, um, dois, três, quatro, cinco, seis …sete! Portugal Sete – Coreia do Norte Zero.
Abracei quem estava ao meu lado, significando com esse abraço uma alegria partilhada com todos os portugueses. Aquele Portugal era o mundo inteiro. Como o Portugal de Saramago, por muito crítico que dele fosse o Nobel e por muito brancas que fossem as suas noites em Lanzarote.
A viagem do aeroporto até ao hotel não pode deixar de ser uma retrospectiva cruzada entre a história duma maravilhosa cidade que já foi St.Peterbourg, Petrogrado e Leninegrado e a vida extraordinária dum personagem, que não me sendo pessoalmente simpática, marcou uma época da literatura portuguesa e exacerbou com maestria literária as contradições sociais, políticas, religiosas e até identitárias da condição de ser português.
St.Peterboug vivia por esses dias os dias mágicos em que o Sol permanece vivo noite dentro e nunca escurece verdadeiramente. Um tempo mágico designado por “noites brancas” em os milhões de habitantes recriam a história e recordam a magia da sua fundação espelhada nos reflexos do Rio Neva e nos muitos raios de luz sobre ele lançados pelos palácios, pontes e catedrais e pelos artefactos nele particularmente colocados para esta ocasião.
Numa das noites, misturado entre as gentes em magote junto à ponte da Santíssima Trindade, tendo o fabuloso Hermitage como cenário, vi como das profundezas da história emergia uma juventude rebelde, que não me surpreendeu pelo afã com que sublinhava o momento afogada em Vodka, Champanhe, Cerveja, mas me fez pensar pela aparente incapacidade de dizer qualquer palavra que não na língua materna e por um certo alheamento do belo e do clássico, trocado pelo sentido do imediato e do sensorial forte.
O convívio, pelo menos aparente, entre grandeza e decadência, desconstruindo o mito duma Rússia marcada sobretudo pela qualidade e disciplina da sua formação, trouxe-me de novo à memória Saramago, ele que na longínqua ilha do fogo extinto escreveu sobre quase tudo menos sobre o esmorecer da chama revolucionária da extinta URSS, hoje pairando pelas noites brancas como um fantasma que cruza o poder e a insegurança, o esplendor e o vazio, e aviva a incerteza forte sobre o papel da Rússia na nova ordem mundial.
A minha viagem a St.Peterbourg terminou como começou! Com uma aterragem e um lento activar do telemóvel, logo seguido dum assalto inusitado de mensagens.
Havia contudo desta vez uma diferença. Salvo algo de inesperado eu supunha qual a razão de tantos contactos. Durante o voo decorrera o Portugal – Coreia do Norte. Foram horas de ignorância sofrida. Receber agora tantas mensagens só podia significar que não fora um jogo normal … o que teria acontecido?
Paulatinamente fui percebendo a grande noticia … os golos iam chegando, um, dois, três, quatro, cinco, seis …sete! Portugal Sete – Coreia do Norte Zero.
Abracei quem estava ao meu lado, significando com esse abraço uma alegria partilhada com todos os portugueses. Aquele Portugal era o mundo inteiro. Como o Portugal de Saramago, por muito crítico que dele fosse o Nobel e por muito brancas que fossem as suas noites em Lanzarote.
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