"Electricidade em pó?"
2010/12/31 12:43
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Não tenho por hábito usar estas crónicas para abordar temas que têm directamente a ver com a minha função política, mas não resisto a abordar aqui um tema lateral mas correlacionado com a importante discussão que tem vindo a decorrer sobre a fixação das tarifas da electricidade em Portugal e sobre a composição da respectiva factura.
A electricidade tem em Portugal um preço abaixo da média europeia (Fonte Eurostat) e as tarifas para os consumidores domésticos subiram este ano muito menos do que aconteceu por exemplo em Espanha. Além disso foi criada uma tarifa social que protegerá os mais carenciados e se espera venha a beneficiar cerca de 650 000 famílias.
No entanto, o que mais impressiona as pessoas com quem tenho falado é a composição da factura. Segundo os dados da ERSE, os portugueses pagam na sua factura quase tanto de custos complementares (33% na média e 44% na moda) como pelos custos directos da energia. E isso surpreende e indigna as pessoas.
Todo este raciocínio, legítimo e útil, enferma de um pressuposto errado. O pressuposto de que a energia se pode comprar e consumir directamente (de facto vai-se poder produzir e consumir directamente cada vez mais e daí a forte aposta do governo na microgeração e na minigeração). Que se pode, como recordo das minhas brincadeiras de adolescência, ir ao supermercado e mandar embalar um MW de “electricidade em pó” para ir usando conforme as necessidades.
Permitam-me usar uma analogia simples para expor esta ideia. Quando pagamos 80 cêntimos por um café quanto estamos a pagar pelo café em si? Não tenho os números mas não será muito mais de 25%. No entanto ninguém pede um café e espera que lhe dêem umas gramas de café moído ou uns grãos por moer. Por isso pagamos mais, porque pagamos o uso da chávena e a sua lavagem ou descarte, a água, o açúcar ou o adoçante, a amortização da máquina, a renda do café, os equipamentos, os seguros, o serviço, os impostos e até a electricidade usada para preparar o café!
E na energia? O que pagamos para que ela se torne disponível e consumível em cada momento? Pagamos o seu transporte e os investimentos e recursos alocados a esse processo, o seu armazenamento (neste caso traduzido em disponibilidade para produzir quando necessário), a sua qualidade em particular garantida pela incorporação crescente de energias renováveis que geram melhor ambiente e riqueza no País e damos um pequeno contributo para a solidariedade nacional, permitindo a convergência tarifária com as regiões autónomas.
Podemos e devemos estar atentos, no café como no sistema eléctrico para que os custos sejam optimizados e o produto seja o melhor possível. Esse é um direito e um dever de cidadania activa.
Mas tal como não passa pela cabeça de ninguém de bom senso ir ao café comprar uma dose de café moído para fazer em casa, também não é razoável que se olhe para a factura da electricidade como se fosse possível comprar “electricidade em pó”! Muito está a mudar na energia em Portugal e para melhor, mas produzir “electricidade em pó” é um número de magia que não faz parte das nossas prioridades.
A electricidade tem em Portugal um preço abaixo da média europeia (Fonte Eurostat) e as tarifas para os consumidores domésticos subiram este ano muito menos do que aconteceu por exemplo em Espanha. Além disso foi criada uma tarifa social que protegerá os mais carenciados e se espera venha a beneficiar cerca de 650 000 famílias.
No entanto, o que mais impressiona as pessoas com quem tenho falado é a composição da factura. Segundo os dados da ERSE, os portugueses pagam na sua factura quase tanto de custos complementares (33% na média e 44% na moda) como pelos custos directos da energia. E isso surpreende e indigna as pessoas.
Todo este raciocínio, legítimo e útil, enferma de um pressuposto errado. O pressuposto de que a energia se pode comprar e consumir directamente (de facto vai-se poder produzir e consumir directamente cada vez mais e daí a forte aposta do governo na microgeração e na minigeração). Que se pode, como recordo das minhas brincadeiras de adolescência, ir ao supermercado e mandar embalar um MW de “electricidade em pó” para ir usando conforme as necessidades.
Permitam-me usar uma analogia simples para expor esta ideia. Quando pagamos 80 cêntimos por um café quanto estamos a pagar pelo café em si? Não tenho os números mas não será muito mais de 25%. No entanto ninguém pede um café e espera que lhe dêem umas gramas de café moído ou uns grãos por moer. Por isso pagamos mais, porque pagamos o uso da chávena e a sua lavagem ou descarte, a água, o açúcar ou o adoçante, a amortização da máquina, a renda do café, os equipamentos, os seguros, o serviço, os impostos e até a electricidade usada para preparar o café!
E na energia? O que pagamos para que ela se torne disponível e consumível em cada momento? Pagamos o seu transporte e os investimentos e recursos alocados a esse processo, o seu armazenamento (neste caso traduzido em disponibilidade para produzir quando necessário), a sua qualidade em particular garantida pela incorporação crescente de energias renováveis que geram melhor ambiente e riqueza no País e damos um pequeno contributo para a solidariedade nacional, permitindo a convergência tarifária com as regiões autónomas.
Podemos e devemos estar atentos, no café como no sistema eléctrico para que os custos sejam optimizados e o produto seja o melhor possível. Esse é um direito e um dever de cidadania activa.
Mas tal como não passa pela cabeça de ninguém de bom senso ir ao café comprar uma dose de café moído para fazer em casa, também não é razoável que se olhe para a factura da electricidade como se fosse possível comprar “electricidade em pó”! Muito está a mudar na energia em Portugal e para melhor, mas produzir “electricidade em pó” é um número de magia que não faz parte das nossas prioridades.
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