Choque de Competitividade (Texto Publicado no Expresso de 21 de Dezembro de 2013)
2013/12/21 09:57
| Malha Larga
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A economia portuguesa precisa de um choque de competitividade, para que
seja possível exportar mais e substituir importações, gerando uma espiral de
desenvolvimento sustentável.
A competitividade é a chave do crescimento e do emprego. O governo tem
uma abordagem maniqueísta que associa competitividade aos custos do trabalho. É
um erro que conduz a especializações distorcidas, ao delapidar do capital
humano e tecnológico, à asfixia da economia e à redução da procura interna, de
tal forma que as nossas empresas perdem contexto para vencer o combate que têm
que travar com os concorrentes externos.
O falhanço da atual política económica explica-se de forma simples. O
Governo quer compensar com os custos do trabalho o aumento dos custos financeiros
das empresas. Só que ao apostar na descida na cadeia de valor, enfraquece a
economia e os custos financeiros para as empresas disparam. Empresas fracas no
atual cenário de integração ou morrem da doença ou morrem da cura. Só
sobrevivem as empresas fortes.
A questão é o que podem fazer as políticas públicas para que as
empresas portuguesas sejam fortes ou pelo menos possam ter a oportunidade de o
serem? Há um duplo combate a travar.
No plano europeu é fundamental
um sistema de compensações que harmonize os choques assimétricos numa zona
monetária não ótima. A mutualização condicionada das dívidas não é um favor que
os Países ricos fazem aos Países menos ricos da Zona Euro. É um ato da mais
pura justiça e racionalidade.
No plano nacional é preciso valorizar as pessoas e as suas
competências, os territórios e as suas potencialidades e as empresas e as suas
capacidades. Desenvolver o Sistema Nacional de Inovação reforçando a ligação
das empresas aos centros de saber, reformando o Estado no plano da boa organização
e da boa governação e aplicando uma política de incentivos ao investimento em
setores de atividade (clusters) em que o País tem capacidade instalada e
reconhecimento de excelência no plano global.
Este triângulo estratégico não é novo, mas precisa de ser renovado. O
Plano Tecnológico reforçou o Sistema de Inovação. Agora é necessário dar um
passo em frente na integração e na criação de valor. Aplicou um plano ambicioso
de modernização do Estado. Agora é preciso mexer e simplificar a sua estrutura.
Apoiou os pólos de competitividade e os polos tecnológicos. Agora é preciso ver
quem aproveitou a oportunidade e dar-lhe um forte impulso para se tornarem
“players” no mercado global.
Quantos setores podem florescer no nosso país com esta receita?
Energias renováveis, calçado, agroalimentar, turismo, mobiliário, moldes, moda,
automóvel e aeronáutica, serviços tecnológicos, mobilidade sustentável,
floresta, saúde? Estes e muitos mais. E com isto quantos milhares de empregos
se criam e quanta riqueza se pode gerar? É um outro caminho. O caminho da
competitividade e da dignidade para Portugal.
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