Podemos Sim !
2014/12/20 20:45
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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No espaço politico entre o Partido
Socialista e a Esquerda Conservadora gerou-se um cadinho dinâmico que está a
gerar novos movimentos como cogumelos. A inspiração parece óbvia. Em Espanha e
na Grécia, ao contrário de outros países em que tem sido a extrema – direita a
capitalizar as ondas populistas, o Podemos e o Siryza cresceram na fronteira
esquerda dos respetivos Partidos Socialistas e aparecem nos estudos de opinião
como potenciais alternativas de governação.
Para evitar fenómenos populistas à
direita ou à esquerda Portugal precisa de boa governação e de afirmação clara
de alternativas no quadro do regime de representação. Por isso considero que
2015 não é como 1983. O risco democrático de um Bloco Central é agora muito
maior. Em política nunca se deve dizer nunca e podem existir circunstâncias que
“obriguem” a uma aliança patriótica alargada, mas em circunstâncias normais é
mais saudável para a democracia que PS e PSD corporizem alternativas
democráticas fortes.
Por outro lado os Partidos tradicionais
têm que se abrir mais à sociedade. No PS e na sequência da escolha através de
Primárias do candidato a Primeiro-Ministro perfila-se um movimento de
aprofundamento da abertura do Partido à Sociedade Civil. É uma liderança
tradicional. Recordo que já em 1995, num debate que teve como base uma proposta
que então elaborei a pedido de Antonio Guterres (conhecido como “Documento
Zorrinho”) o PS aprofundou a participação de independentes na sua vida
quotidiana dando enquadramento e continuidade ao Movimento dos Estados Gerais
para uma Nova Maioria.
O Manifesto agora em preparação, por
aquilo que dele conheço, é uma proposta estimulante e que coloca questões muito
interessantes, que não devem ser vistas como propostas fechadas, mas como
propostas para debate. De facto, para muitas delas, só a reflexão e o estudo
podem dar a boa resposta.
Alguns exemplos. Em Inglaterra a
tradição do Governo sair de entre os Deputados eleitos funciona com grande
sucesso. Funcionaria em Portugal? As primárias para o Parlamento Europeu sendo
uma lista nacional única não correriam o risco de distorcer a diversidade
técnica e territorial da representação? Deverá existir um limite de mandatos
para deputados, designadamente num quadro de futuros círculos uninominais?
Estas três questões são desde já uma amostra da riqueza do debate que tem que
ser travado, e não entram ainda no terreno escorregadio das fronteiras entre o
que deve ser referendado e o que deve ser assumido como decisão de mandato político.
É um debate complexo mas que deve ser
travado quanto antes. E podemos. Claro que podemos. Podemos Sim!
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