A Janela Italiana
2014/09/04 17:01
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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No corrente
semestre a União Europeia é presidida pela Itália. Depois do Tratado de Lisboa
e da criação nele feita do cargo de Presidente do Conselho Europeu, o papel das
Presidências perdeu relevo e visibilidade. No entanto, continuam a ser as
equipas do País da Presidência a gerirem e a dinamizarem os principais dossiers
sectoriais, em articulação com o Parlamento e com a Comissão Europeia.
O programa da
Presidência Italiana é inovador e ambicioso. Com o impulso desse programa e com
a pressão e a consciência do risco político do empobrecimento e da
insignificância que ele acarreta, bem notória na gestão do conflito com a
Rússia, uma nova linguagem tem tomado conta dos debates europeus.
Economia
circular, mercado interno da energia com aposta nas energias renováveis, nas
interligações e na diversificação de fontes, agenda digital como base duma
reindustrialização inteligente e limpa, parcerias estratégicas para afirmação
do potencial tecnológico europeu e ambição de liderança em áreas críticas como
as redes de informação, o mar ou a biotecnologia, entraram com força e
convicção no debate quotidiano do Parlamento Europeu.
Uma entrada
que não se fez pela porta da tecnocracia, mas pela porta da nova política. Esta
nova linguagem liga-se a novos objectivos de crescimento e emprego, de
redistribuição de riqueza e diminuição de desigualdades, de combate à pobreza e
de imigração apoiada e integrada no modelo económico e social.
A reacção a
esta lufada de ar fresco não é consensual. Os mais conservadores e os
"ganhadores" do contexto de crise esfregam as mãos a pensar que já só
faltam 3 meses para o Natal e para que esta janela se feche.
Em
contrapartida os países "perdedores" da crise das políticas de
empobrecimento têm a obrigação de aproveitar ao máximo a janela italiana, a que
se seguirão duas Janelas menos viradas a Sul e com menos peso político como é o
caso das Presidências da Letónia e do Luxemburgo.
E o Governo
Português? Se já fez alguma coisa para aproveitar esta janela de oportunidade
não se deu por nada.
A mensagem
mais forte que entendeu enviar, foi propor para a Comissão Europeia um homem
que é um dos principais rostos da austeridade e da Tróica. Um homem do tufão
financeiro que pôs em causa uma parcela significativa do projecto europeu.
Esperemos que
a brisa mediterrânica que sopra de Itália não permita ao nosso Governo, filho
dilecto da Tróica, continuar incólume a acarinhar os mercados e a seviciar as
pessoas.
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