Dignidade e Caridade





Em meados do século passado o meu avô paterno tinha um forno de fabrico de telhas e tijolos em Santiago do Escoural. Nos momentos baixos da atividade agrícola ali acorriam muitos jornaleiros em busca de pequenos trabalhos complementares que os ajudassem a sobreviver. Quando alguma coisa se arranjava, muitas vezes por respeito ao desespero dos trabalhadores, era normal que logo a meio da manhã viesse a respectiva mulher pedir a jorna para colocar a panela ao lume e assegurar o alimento da família.



Pela mesma altura em Óbidos o tio-avô com que a minha mãe foi criada geria uma exploração de extração e produção de gesso e sendo uma família abastada, protegia alguns pobres que recebiam as sobras e ajudas da família e que em contrapartida ajudavam em pequenas tarefas que eram necessárias.



Estes dois quadros de vida com que ilustro o inicio desta crónica, caracterizam uma época de grandes dificuldades e de grandes desigualdades no nosso País. Por isso tenho orgulho nos meus antepassados, que cada qual à sua maneira ajudava quem mais precisava. Mas não tenho saudades dos tempos em uma significativa parte das pessoas viviam suspensas da boa vontade e da caridade dos que mais possuíam.



As coisas começaram a mudar mesmo antes da revolução de Abril e com ela os portugueses recuperaram a dignidade da sua auto-suficiência com base em sistemas de proteção social solidários e geridos pelo Estado.



Não deixou de haver espaço para as pessoas que fazem da ajuda aos outros uma forma de se realizarem, mas a sociedade passou a garantir a todos um mínimo de subsistência e a equidade no acesso aos serviços públicos essenciais. Esta é a matriz da nossa democracia e dum contrato social que longe de ser perfeito, coloca no entanto o nosso País entre os países desenvolvidos e com funções sociais públicas relevantes.



O empobrecimento brutal que o atual governo está a provocar na sociedade portuguesa começa a pôr em causa este modelo. É normal que com esta escolha existam cada vez mais pessoas vulneráveis e a precisar da caridade alheia. Quem ajuda faz o bem. A solução no entanto não está no regresso à pobreza auxiliada mas sim no combate forte pelo regresso ao crescimento, à criação de riqueza e à sociedade de bem-estar. A caridade tem que ser um complemento da dignidade e não a sua base “fictícia”.



Não renego a importância de iniciativas como o banco alimentar, mas não haverá bancos alimentares que cheguem se a sociedade não tiver bancos de fomento que ajudem quem quer investir e criar emprego, que apostem na produção, que reponham o País no caminho do progresso.



PS: Nada melhor para ilustrar a filosofia desta crónica do que assinalar e realçar a assinatura dos contratos de financiamento do Parque de Ciência e Tecnologia do Alentejo (PCTA). É um projecto que envolve 3,6 milhões de Euros na sua primeira fase e 15 milhões no total e no qual me empenhei desde o primeiro momento. Parabéns a quem o soube continuar com força e convicção e votos de sucesso para o seu futuro.















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