Viagem no Tempo (Sobre a Feira de S.João de Évora)
2016/07/03 10:38
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Chegou ao fim mais uma corrida mais uma viagem, ou seja, mais uma feira
anual em Évora. Para o ano haverá mais uma Feira de S. João no Rossio e de novo
lá estaremos a percorrer os mesmos percursos e espaços, que com ligeiras
alterações se vão mantendo há décadas com a mesma traça, sons, cheiros, luzes,
alma.
Os pavilhões económicos, as
barraquinhas das associações e do artesanato, a zona das farturas e dos churros
com o cheiro seu marcante, as roulottes de comes e bebes, a sempre animada
Horta das Laranjeiras com as múltiplas tasquinhas, os palcos e a Feira do
Livro, os Pavilhões Institucionais, os restaurantes de feira com a carne sempre
no assador, as noites entrecortadas de bafo alentejano e de vento cortante nos
dias mais frios.
As feiras anuais que se realizam um pouco por todo o País, e de que a
Feira de S. João é um exemplo, ainda com a traça de feira de trocas e de
mostras, são hoje um ponto de encontro especial entre gentes que ficam e gentes
que partem e regressam naqueles dias às suas comunidades de origem.
Alguns amigos de liceu, da universidade,
do futebol, das corridas e das aventuras ciclísticas, dos bailes e das festas
da minha juventude, quase só os encontro, quando encontro, na feira de S. João.
É sempre um encontro reconfortante.
Embora muito tenha mudado em nós
com a passagem do tempo, deixando marcas nos rostos, nas histórias por contar,
nas famílias acrescentadas pelos que foram nascendo ou diminuídas pelos que
partiram, a permanência do cenário, dá a sensação estranha de uma viagem no
tempo, como se cada amigo ou amiga que encontramos nos convidasse a uma paragem
breve numa estação da nossa existência e num recanto das nossas memórias.
Há muitos anos, (e este ano pelo que percebi, também assim aconteceu),
que se discute o futuro da Feira de S. João e a necessidade de a aproximar das
feiras económicas mais modernas, com pavilhões aclimatados e grandes
espetáculos para atrair multidões.
É claro que pavilhões confortáveis
e espetáculos interessantes só farão bem à Feira de S. João e as novas gerações
esperam e têm legítimo direito a outras ofertas mais adaptadas aos tempos que
correm.
Mas para mim, que normalmente não dispenso a nostalgia de umas voltas
no carrossel ou na pista dos carros de choque e uns petiscos nas tasquinhas
(este ano animadas pelos écrans do nosso contentamento desportivo) é sobretudo a
viagem no tempo que constitui o passear pela feira, bebericando aqui e ali uma
imperial ou uma caipirinha, um branco fresquinho ou um tinto arrebatado e
encontrando as pessoas que comigo têm feito a caminhada da vida, que faz da
Feira de S. João de Évora um evento único.
Uma prova de vida, em cada ano
saboreada como se fosse a primeira vez.
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