Sinais Vitais
Tantos meses de pandemia e de vida travada, condicionada e incerta, geraram na sociedade portuguesa sintomas preocupantes de desprendimento e desmobilização que não são compatíveis com o enorme esforço necessário para aproveitar a grande oportunidade de recuperação e transformação que resultará da aplicação dos programas de financiamento aprovados no plano europeu e nacional.
O distanciamento social gerou também um quadro de distanciamento emocional, que faz com que para quem observa seja difícil concluir se esta perceção traduz um fenómeno profundo e cristalizado na sociedade ou apenas uma reação superficial e defensiva, tendo em conta as circunstâncias.
Com o harmónio de expectativas e emoções vividas durante os últimos meses é normal que muitas portuguesas e portuguesas se refugiem agora numa certa atitude de expetativa cautelosa, de não exposição e de dificuldade de comprometimento com planos ou ideias mais fortes. Uma atitude transversal de “esperar para ver” apossou-se duma parte significativa da sociedade e isso retirou-lhe à vista desarmada e com as exceções que confirmam a regra, parte da sua motivação para fazer acontecer. Está, no entanto. já em marcha uma grande resposta democrática e este impasse anímico.
Em 26 de setembro, muitos milhares de cidadãos, que encontraram em si a força de se subterem ao escrutínio popular e representarem as suas comunidades nas eleições autárquicas, constituirão um enorme despertador para uma nova lufada de açãotransformadora e concretizadora e para um novo ciclo de revitalização do nosso tecido social, económico e político, numa dinâmica para a qual o Governo e as diversas instituições têm vindo a aplanar o terreno.
Acredito e desejo, que ao contrário de muitos vaticínios´, se a situação sanitária o permitir, haja uma forte participação cívica nas eleições autárquicas e que isso seja a prova de que os sinais vitais da sociedade portuguesa, amagados que foram pelas circunstâncias extremas, darão lugar a um ressurgimento de ânimo que será determinante para o nosso futuro coletivo e para o futuro das nossas vidas e das nossas comunidades.
As circunstâncias vão tornar mais difíceis as campanhas autárquicas de grande proximidade, contacto direto e compromisso, mas ocorrem num momento em que podem constituir um bálsamo revigorante para a democracia portuguesa. Portugal é devedor dos que aceitaram ser candidatos e precisa que todos os que puderem digam presente no momento de escolher.