Sementeira
Os tempos estão desafiantes. No nosso Alentejo, ao mesmo tempo que investimentos estruturantes se vão concretizando a bom ritmo, a ameaça das alterações climáticas, em particular da seca, e os impactos da “economia” de guerra e do inevitável contributo coletivo para a defesa da liberdade e da soberania dos povos, obrigam-nos a ser mais cautelosos, rigorosos e pró-ativos nas opções a tomar.
Saúdo neste contexto, pelo seu carater de exemplo, a apresentação por sete Municípios da Zona dos Mármores e Alqueva (Alandroal, Borba, Estremoz, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Sousel e Vila Viçosa) em parceria com a IP - Infraestruturas de Portugal SA, de um estudo preliminar sobre a viabilidade de um terminal de carga e descarga de mercadorias, a localizar junto ao novo corredor ferroviário internacional sul que ligaráSines e Caia. Um corredor ferroviário com forte potencial de conexão ao mercado ibérico e europeu.
O terminal, a localizar na designada Estação técnica 2 (Alandroal/Vila Viçosa) poderá ser a chave para libertar todo o potencial do território envolvente, quer no plano mineiro, quer no plano da agropecuária de excelência ou das novas energias verdes.
Muitos dirão que a iniciativa que descrevi é apenas um estudo. No momento de atrair investimento privado e apoio público, a existência desse estudo poderá fazer a diferença. Poderá fazer a diferença neste caso e noutros em que procedimentos similares sejam feitos na nossa região, por exemplo na questão do uso da ferrovia para o transporte de passageiros, entre muitas outras ideias que vão surgindo e que vão sendo debatidas num tempo em que conclui a execução de um programa regional de coesão (Alentejo 2020), se prepara outro (Alentejo 2030) e se vai aplicar em todo o território o Programa de Recuperação e Resiliência.
Somos um território vasto, com campos mais ou menos férteis, mas nada acontecerá se não os semearmos com boas sementes adequadas aos solos e ao clima, ou seja, com projetos estruturados e avaliados nos seus expectáveis impactos económicos, sociais e ambientais. Quando, já lá vão quase três décadas, coordenei a sementeira do PROALENTEJO que tantos frutos visíveis tem ainda hoje na nossa terra, senti bem a diferença entre ideias e projetos, no momento da verdade. Quando foi preciso decidir as ideias ficaram registadas e os bons projetos foram financiados e tornaram-se realidade.
Este é o tempo de cuidar que seja boa sementeira para uma década em que temos quesegurar os que aqui nascem e querem ficar e atrair novas gentes para um futuro próspero e sustentável