Arbitrariedade
2008/12/22 12:47
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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No tempo complexo em que hoje vivemos, em que se multiplicam as relações e os conflitos de interesses, o papel da arbitragem é cada vez mais importante. Dos árbitros, espera-se que interpretem as regras de forma isenta e que sejam capazes de criar um ambiente em que todos acreditam nessa isenção.
A arbitragem é necessária muito para além do contexto desportivo. O desporto permite-nos no entanto perceber fenómenos que têm impacto em toda a sociedade. Recentemente assisti a um jogo de futebol em que o árbitro interpretou e aplicou de forma adequada todas as regras do jogo. A forma como o fez deu no entanto a clara sensação que procurando ser isento no processo, não o era na sua consequência. Todos os pequenos gestos, atitudes e expressões do juiz de campo davam a entender que o árbitro desejava ardentemente a derrota de um dos contendores, ainda que na prática nada tenha feito de decisivo para isso. Pelo menos de forma explícita.
Vejamos um pouco mais detalhadamente este exemplo. Se é verdade que o árbitro decidiu sempre de forma correcta, que impacto terá tido nas equipas a percepção de que isto poderia não suceder. O que é que uns fizeram, e sobretudo o que é que outros deixaram de fazer, pelo facto do árbitro ter criado um quadro de condicionamento mais ou menos implícito.
Esta é a questão chave da arbitragem no nosso tempo, que no domínio da economia se designa por regulação. Parte dum pressuposto de isenção inócua do árbitro que muitas vezes não é possível, por muito que seja tentada ou mesmo desejada pelo protagonista.
No futebol há quem defenda a introdução de novas tecnologias para assegurar aos contentores que qualquer distorção grosseira, ainda que involuntária, será corrigida, dando à partida confiança similar aos dois lados da disputa.
E na sociedade? Como é que reduzimos os riscos de arbitrariedade, sobretudo quando muitos dos árbitros escapam por lei ao controlo democrático permanente. Aqui não há na minha opinião computadores ou sistemas de informação que nos valham. Tem que ser mesmo o público a mostrar a sua atenção permanente e a não pactuar com a vista grossa, mesmo que ela beneficie a sua equipa.
Muito dizem que a debandada que vai despindo cada vez mais as bancadas dos estádios de futebol se deve em larga medida à percepção, verdadeira ou não, de que a arbitragem asfixia o jogo. Será essa também parte da razão pela qual, à excepção do novo impulso americano, o exercício activo da cidadania política vem atraindo cada vez menos gente e cada vez menos entusiasmo.
Costuma-se dizer que o mais fácil é sempre culpar o árbitro. Certamente que parte da culpa é dos jogadores, dos treinadores e dos dirigentes. Mas enquanto não de afastar a suspeição de arbitrariedade, não regressa a confiança que faz do futebol e da vida um palco vibrante de emoção e conquista.
A arbitragem é necessária muito para além do contexto desportivo. O desporto permite-nos no entanto perceber fenómenos que têm impacto em toda a sociedade. Recentemente assisti a um jogo de futebol em que o árbitro interpretou e aplicou de forma adequada todas as regras do jogo. A forma como o fez deu no entanto a clara sensação que procurando ser isento no processo, não o era na sua consequência. Todos os pequenos gestos, atitudes e expressões do juiz de campo davam a entender que o árbitro desejava ardentemente a derrota de um dos contendores, ainda que na prática nada tenha feito de decisivo para isso. Pelo menos de forma explícita.
Vejamos um pouco mais detalhadamente este exemplo. Se é verdade que o árbitro decidiu sempre de forma correcta, que impacto terá tido nas equipas a percepção de que isto poderia não suceder. O que é que uns fizeram, e sobretudo o que é que outros deixaram de fazer, pelo facto do árbitro ter criado um quadro de condicionamento mais ou menos implícito.
Esta é a questão chave da arbitragem no nosso tempo, que no domínio da economia se designa por regulação. Parte dum pressuposto de isenção inócua do árbitro que muitas vezes não é possível, por muito que seja tentada ou mesmo desejada pelo protagonista.
No futebol há quem defenda a introdução de novas tecnologias para assegurar aos contentores que qualquer distorção grosseira, ainda que involuntária, será corrigida, dando à partida confiança similar aos dois lados da disputa.
E na sociedade? Como é que reduzimos os riscos de arbitrariedade, sobretudo quando muitos dos árbitros escapam por lei ao controlo democrático permanente. Aqui não há na minha opinião computadores ou sistemas de informação que nos valham. Tem que ser mesmo o público a mostrar a sua atenção permanente e a não pactuar com a vista grossa, mesmo que ela beneficie a sua equipa.
Muito dizem que a debandada que vai despindo cada vez mais as bancadas dos estádios de futebol se deve em larga medida à percepção, verdadeira ou não, de que a arbitragem asfixia o jogo. Será essa também parte da razão pela qual, à excepção do novo impulso americano, o exercício activo da cidadania política vem atraindo cada vez menos gente e cada vez menos entusiasmo.
Costuma-se dizer que o mais fácil é sempre culpar o árbitro. Certamente que parte da culpa é dos jogadores, dos treinadores e dos dirigentes. Mas enquanto não de afastar a suspeição de arbitrariedade, não regressa a confiança que faz do futebol e da vida um palco vibrante de emoção e conquista.
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