Ganância
2008/12/22 12:40
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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As últimas grandes crises económicas globais e sistémicas tiveram a sua origem nos EUA, em parte porque é aí o coração do modelo capitalista neoliberal e em parte porque o Dólar se tornou na divisa de referência do comércio mundial.
A organização financeira da economia mundial nas últimas décadas baseou-se sempre no pressuposto de que um deficit comercial estrutural dos EUA inundaria, como inundou, o mundo de dólares, e isso permitiria lubrificar as transacções e a divisão internacional do trabalho gerada pela globalização.
A verdade é que este modelo funcionou bem na maioria do tempo e permitiu um ciclo de crescimento e progresso muito significativo à escala global. Uma consequência positiva e complementar desta mecânica de equilíbrios económicos e monetários reflectiu-se no desenvolvimento duma rede financeira alternativa baseada no EURO, cuja importância determinante para “segurar as pontas” da crise actual e manter a esperança da recuperação tem sido bem evidente.
As razões porque o modelo de financiamento global da economia baseado no deficit americano faliu, radicam em larga medida no mais negativo da natureza humana e das consequências do capitalismo selvagem, que fomentaram a ganância, a usurpação de recursos pelos “iniciados” dos mercados financeiros, o enriquecimento insidioso de alguns e o enfraquecimento da classe média. Um enfraquecimento que acabou por ser decisivo e fatal para a sustentabilidade do modelo.
A política económica da Administração Bush e dos seus seguidores baseou-se no desagravamento fiscal das grandes fortunas, na liberalização de esquemas remuneratórios criativos e na promoção dum modelo de financiamento da economia baseado no anseio consumista da classe média americana. Os seus protagonistas esqueceram-se contudo dum “pequeno” pormenor. No limite, a classe média era a base do sistema, e a sua asfixia provocaria, como provocou, a sua implosão.
O aumento do preço dos combustíveis, a pressão sobre os preços da alimentação e a subida relativa das taxas de juro, pôs a descoberto a incapacidade da classe média americana para solver os seus compromissos financeiros. Ao mesmo tempo os gestores financeiros espremiam ao limite os ganhos imediatos, as comissões, a parafernália de bónus e os comportamentos de casta.
De alguma forma, ao agravarem assimetrias e empobrecerem a classe média americana (5% mais ricos detêm 50% do património americano enquanto os 50% mais pobres apenas detêm 2,8% desse mesmo património), os executivos financeiros mataram a sua galinha dos ovos de ouro. Quiseram tudo de uma vez e tudo deitaram a perder. Não foi naturalmente este o único fenómeno que conduziu à crise, mas não tenho dúvidas que deu uma grande ajuda, até porque aconteceu com mais ou menos profundidade em muitos outros países do mundo, incluindo o nosso.
A má notícia é que como na história da galinha dos ovos de ouro, no fim da narrativa quem fica com as tripas de fora a marinar no assador é a dita galinha. Os galifões encontram sempre um recanto da capoeira para aguardarem que uma nova leva de pintos se ponha a jeito!
A organização financeira da economia mundial nas últimas décadas baseou-se sempre no pressuposto de que um deficit comercial estrutural dos EUA inundaria, como inundou, o mundo de dólares, e isso permitiria lubrificar as transacções e a divisão internacional do trabalho gerada pela globalização.
A verdade é que este modelo funcionou bem na maioria do tempo e permitiu um ciclo de crescimento e progresso muito significativo à escala global. Uma consequência positiva e complementar desta mecânica de equilíbrios económicos e monetários reflectiu-se no desenvolvimento duma rede financeira alternativa baseada no EURO, cuja importância determinante para “segurar as pontas” da crise actual e manter a esperança da recuperação tem sido bem evidente.
As razões porque o modelo de financiamento global da economia baseado no deficit americano faliu, radicam em larga medida no mais negativo da natureza humana e das consequências do capitalismo selvagem, que fomentaram a ganância, a usurpação de recursos pelos “iniciados” dos mercados financeiros, o enriquecimento insidioso de alguns e o enfraquecimento da classe média. Um enfraquecimento que acabou por ser decisivo e fatal para a sustentabilidade do modelo.
A política económica da Administração Bush e dos seus seguidores baseou-se no desagravamento fiscal das grandes fortunas, na liberalização de esquemas remuneratórios criativos e na promoção dum modelo de financiamento da economia baseado no anseio consumista da classe média americana. Os seus protagonistas esqueceram-se contudo dum “pequeno” pormenor. No limite, a classe média era a base do sistema, e a sua asfixia provocaria, como provocou, a sua implosão.
O aumento do preço dos combustíveis, a pressão sobre os preços da alimentação e a subida relativa das taxas de juro, pôs a descoberto a incapacidade da classe média americana para solver os seus compromissos financeiros. Ao mesmo tempo os gestores financeiros espremiam ao limite os ganhos imediatos, as comissões, a parafernália de bónus e os comportamentos de casta.
De alguma forma, ao agravarem assimetrias e empobrecerem a classe média americana (5% mais ricos detêm 50% do património americano enquanto os 50% mais pobres apenas detêm 2,8% desse mesmo património), os executivos financeiros mataram a sua galinha dos ovos de ouro. Quiseram tudo de uma vez e tudo deitaram a perder. Não foi naturalmente este o único fenómeno que conduziu à crise, mas não tenho dúvidas que deu uma grande ajuda, até porque aconteceu com mais ou menos profundidade em muitos outros países do mundo, incluindo o nosso.
A má notícia é que como na história da galinha dos ovos de ouro, no fim da narrativa quem fica com as tripas de fora a marinar no assador é a dita galinha. Os galifões encontram sempre um recanto da capoeira para aguardarem que uma nova leva de pintos se ponha a jeito!
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