O Buraco da Minha Rua
2014/07/05 10:39
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Há cerca de 3 semanas, ia eu caminhando
na minha rua em Évora quando verifiquei que o calor sufocante desse dia tinha
feito derreter o alcatrão num ponto no meio da via e que surpreendentemente por
baixo do buraco visível estava uma razoável cratera resultante certamente da
deficiente preparação do terreno quando a rua foi arranjada.
Face ao risco implícito avisei a polícia
e trinta minutos depois o lugar estava devidamente sinalizado e isolado. Deixei
então uma reflexão nas redes sociais, ilustrando com aquele singelo caso as
várias dimensões da nossa intervenção cívica. Um dia podemos ter que debater o
buraco do ozono ou até os buracos negros do universo, mas no outro dia temos
que estar preparados para agir se aparecer um pequeno buraco na nossa rua que
pode provocar um acidente se não for tapado.
Acontece que o dito buraco que tão
depressa foi isolado e sinalizado, continua a atrapalhar o trânsito e nunca
mais foi reparado. Usando de novo as redes sociais fui contando a sua história
e foi-se gerando um debate curioso.
Alguns transformaram a metáfora numa
imagem potente. Falou-se de um buraco património da humanidade, dum novo tipo
de mobiliário urbano, dum cinzeiro embebido na rua, Duma “central” de recolha
de lixo. Chamando-se a rua, Rua do Viveiro, houve mesmo quem sugerisse a
inovação de se plantar uma árvore no meio da via aproveitando o buraco aberto.
Enfim, a nossa imaginação é rica e muito criativa, e brincar dentro dos limites
só faz bem ao espírito e ao corpo.
Mas houveram outros que levaram a coisa
para outro campo e me criticaram por estar a dar relevo ao buraco da minha rua,
quando o País e o Mundo estão mergulhados em buracos de outro teor, como o
buraco financeiro, o buraco da desigualdade e da pobreza, o buraco dos
conflitos armados e do terrorismo ou buraco da erosão dos valores.
Compreendo o seu ponto de vista. Até por
isso o debate que o buraco da minha rua gerou foi útil. Mas por mim tenho uma
convicção que quero partilhar convosco em jeito de metáfora obviamente. Quem
não se preocupa com “o buraco da sua rua” dificilmente terá a sensibilidade a
atitude para se preocupar com os “buracos” do seu bairro, da sua cidade, da sua
região, do seu continente e do mundo em que vive.
O buraco da minha rua, continua no seu
posto no momento em que escrevo este texto. Espero que seja rapidamente
resolvido, mas ao menos, enquanto não for, que vá proporcionando um
interessante debate de cidadania.
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