Pipa de Massa
2014/07/31 19:19
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Segundo o Presidente da Comissão
Europeia ainda em exercício Durão Barroso, Portugal vai receber dos fundos
europeus nos próximos seis anos uma “pipa de massa” orçada em cerca de 26 000
Milhões de Euros.
Não gostei do estilo nem do
enquadramento em que Durão Barroso anunciou o suposto “bodo aos pobres” da
Comissão Europeia perante uma aquiescência tímida de Passos Coelho e da sua reverencial
equipa.
A União Europeia não nos dá nada que não
nos pertença por direito próprio e muito menos nos dá o seu cessante Presidente
da Comissão. Um Presidente que sendo português, realizou um primeiro mandato
razoável tendo em conta a sua matriz ideológica, mas que no segundo mandato foi
tão infeliz que a sua anunciada saída é uma das poucas esperanças que animam a
hipótese dum relançamento do espírito europeu.
Os fundos estruturais fazem parte dos Tratados
e compensam os choques assimétricos que resultam da integração de economias com
níveis de maturidade diferentes. Nós temos direito a uma “pipa de massa” porque
o facto de termos que competir sem barreiras com regiões muito mais
desenvolvidas do espaço europeu nos custa também uma “pipa de massa”, que nos
últimos anos até tem sido de tamanho superior à recebida.
A questão chave não é no entanto a
quantidade da “pipa ” carregada no dorso pelo Presidente de turno, mas o uso
que o governo em Portugal lhe vai dar. As “pipas” recebidas no passado foram em
larga medida desperdiçadas, mas o atual governo agravou muito as práticas de
mau uso de fundos comunitários, começando mesmo a destruir pedra por pedra os
sistemas que os fundos comunitários ajudaram a modernizar e a tornar
competitivos, como o sistema científico nacional, as indústrias inovadoras, o
sistema universitário e politécnico, os serviços públicos de acesso universal,
a escola pública ou os programas de requalificação ou valorização profissional.
Dessa “pipa” uma barrica jeitosa chegará
ao nosso Alentejo. Com a dimensão territorial e o mercado esquelético que
temos, o dinheiro aqui chegado tem que ser usado com particular atenção,
privilegiando ações com eficiência coletiva e que contribuam para a fixação de
pessoas no território.
O Parque de Ciência e Tecnologia do
Alentejo (PCTA), que tive o gosto de aprovar para candidatura quando fui
Secretário de Estado da Energia e da Inovação, e cuja adjudicação do edifício
central ocorreu dia 31 de Julho, tem sido até agora um bom exemplo de
cooperação entre ativa entre os diversos atores regionais. Tomemos este bom exemplo
e multipliquem-se por todo o território. Já que vem aí uma “pipa de massa” aproveitemo-la
até ao último cálice.
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