Pepe Mujica
2016/09/25 09:53
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Com uma população de menos de 4 milhões de pessoas e encravado entre
dois gigantes (Argentina e Brasil), o Uruguai tem uma história muito
interessante de resistência e sobrevivência, a que não é alheia a forma como a nação
foi concebida pelos fundadores.
Também agora, num tempo de grande convulsão em grande parte da América
Latina, o Uruguai embora não fique impune à quebra de preços das suas
exportações e aos desenvolvimentos complexos nos seus vizinhos do Mercosul, tem
conseguido manter um equilíbrio político e uma paz social que são relevantes.
Estive entre 19 e 22 de Setembro em Montevideu, capital do Uruguai,
onde se realizou a nona Assembleia Parlamentar Eurolat (União Europeia –
América Latina). No âmbito dos seus trabalhos a Assembleia passou em revista as
grandes questões que se colocam no mundo atual e pôde escutar uma interessante intervenção
do anterior presidente Uruguaio Pepe Mujica partilhando algumas ideias simples
em que vale a pena refletir.
Disse Mujica que o mundo enfrenta o risco de ficar limitado a ter de
escolher (e a possivelmente ter de se dividir) entre dois cenários indesejáveis.
Entre uma globalização centralizada, em que muito poucos controlam a riqueza, o
poder e a vida de todos, ou um nacionalismo populista que sobreviverá de
acicatar os confrontos territoriais e regionais travando a cooperação pelo
progresso.
É por isso necessário juntar esforços para que permaneça aberta uma via
alternativa, que tire o melhor partido de uma globalização regulada e da
afirmação saudável das identidades nacionais. Uma via que exige mais e melhor
democracia e mais e melhor política.
Mais democracia e mais política foi a receita que Pepe Mujica partilhou
com os parlamentares da Eurolat. Mais democracia significa mais participação
efetiva das pessoas nas decisões e mais política implica mais capacidade de
gerir conflitos procurando sínteses que beneficiem não uns grupos contra os
outros, mas a comunidade em geral.
A política tem que ser cada vez mais a arte de gerir os conflitos a bem
da sociedade, das pessoas e do planeta e não um instrumento de poder pelo poder
ao serviço dos interesses de quem o detêm.
O enfraquecimento da política e
dos seus protagonistas Na nova sociedade global tem servido em última análise a
lei dos mais fortes. Sem boa regulação política democrática, as sociedades
fracturam-se, a dignidade das pessoas é colocada em causa e o planeta sofre uma
pilhagem desenfreada.
Pepe Mujica foi um antigo guerrilheiro e presidiu ao Uruguai entre 2010
e 2015. Foi sucedido por um outro Presidente progressista e é conhecido entre
outras coisas por viver de forma singela e partilhar uma parte significativa
dos seus rendimentos com os mais desfavorecidos. Qualifica-se a si mesmo mesmo
como um general pacifista. Uma interessante síntese, como interessante é a síntese
do seu pensamento, tão atual face aos desafios que nos
confrontam.
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