Uma Campanha de Proximidade
2014/03/30 23:16
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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As eleições europeias de 25 de Maio são tão ou mais importantes para a
vida quotidiana dos europeus em geral e dos portugueses em particular do que
umas eleições nacionais. No entanto todos os estudos de opinião preveem para
Portugal uma votação abaixo dos 40% nas próximas eleições para o Parlamento
Europeu, o que mesmo com todas as distorções do nosso sistema de recenseamento
e com a abstenção técnica por ele gerado é deveras preocupante.
Nestas eleições era necessária, mais do que em qualquer outra, uma
campanha de proximidade capaz de explicar a cada cidadão o que está em jogo nas
eleições. E está muito.
Não é esse no entanto o cenário que se avizinha.
A comunicação porta- a- porta é
fundamental mas ninguém consegue por esse método chegar a todos. As televisões
não parecem interessadas em informar com um código ético em que as audiências
não podem ser critério. Os jornais nacionais embora muito importantes chegam a
cada vez menos gente.
Resta-nos a imprensa regional,
de que o Diário do Sul é um excelente exemplo, para dar corpo a essa
proximidade de propostas e debate. Mas falta o apoio específico para que isto
posa acontecer-
É um erro que e vez de anúncios
vagos nos horários nobres das Televisões ou pelo menos em acumulação com estes,
as entidades competentes, europeias e nacionais, não estabeleçam um protocolo
de financiamento de espaços de debate de proximidade na imprensa regional que
vai sobrevivendo e resistindo.
Este texto constitui a minha crónica número mil e noventa e um no
Diário do Sul. Mais de vinte anos de fidelização semanal duma relação entre
cronista e eleitores. Sei bem como este Diário chega junto das pessoas, entre
nas casas dos alentejanos da região e da diáspora, nos cafés, nos barbeiros e
nos serviços. É um elo de ligação como são ainda uma mão cheia de outros
diários e semanários regionais que vão resistindo á crise.
Se queremos reanimar a cidadania participativa temos que começar pela
comunicação de proximidade. As redes sociais de que sou utilizador frequente
permitem essa proximidade com muita gente mas não substituem os jornais e as
rádios de âmbito regional ou local.
Talvez tenha tomado consciência maior desta lacuna por estar
diretamente envolvido nesta eleição. O meu compromisso é tudo fazer para
alterar esta situação. Num tempo em que assinalamos 40 anos de Abril a
progressiva asfixia da comunicação social de proximidade é um dos sintomas da
doença que tem vindo a contaminar a nossa democracia.
Aproveito esta coluna num Diário Regional saudável e resistente para
dizer que é preciso passar das palavras aos atos, separar o trigo do joio e
apoiar decididamente a imprensa regional de proximidade.
Só assim a política também poderá ser mais de proximidade ajudando a um
processo de reconciliação dos cidadãos com a participação democrática ativa.
Quarenta anos depois de Abril, demos á revolução esta pequena prenda. Ela vai
gostar.
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