Por uma UE Progressista (a propósito de uma conferência de Jeffrey Sachs)
2016/10/22 12:12
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Em Bruxelas, na conferência de
abertura da Convenção “Juntos por uma nova direção progressista para a Europa”,
que irá decorrer em 18 sessões por toda a União Europeia e servirá para
preparar as linhas fortes da proposta dos Socialistas e Social-democratas para
as eleições europeias de 2019, Frederica Mogherini, Alta Representante para as
Relações Exteriores, testemunhou que a União Europeia (UE) é vista como uma
referência de integração pacífica em todo um mundo, exceto no seu próprio seio.
Também eu já senti desconforto e perplexidade
em diálogos internacionais em que muitos representantes nos dizem simplesmente
que têm a Europa como modelo, na democracia, no sentido humanista, na
cooperação interna e externa e em muitos outros pontos da agenda. Sinto
desconforto porque sei que eles têm razão objetiva, mas ao mesmo tempo estou
consciente que nós temos a obrigação e a possibilidade de fazer bem mais e
melhor do que fazemos.
A perspetiva dos outros é muito útil
para nos conhecermos melhor. Não para nos deslumbrarmos ou acomodarmos, mas
para nos motivarmos a prosseguir. No mesmo dia da abertura da convenção que
antes referi, pude escutar também no Parlamento Europeu uma estimulante
conferência do Professor americano Jeffrey Sachs sobre a perspetiva do
desenvolvimento sustentável.
Como é natural face ao local e ao
contexto da conferência, grande parte das questões que lhe foram colocadas
versaram a situação europeia. A resposta de Sachs foi muito assertiva,
pragmática e positiva, própria de quem nos olha de fora, sem os problemas
“existenciais” que nos toldam a visão, para usar uma expressão recente de
antigo Presidente da República italiano Giorgio Napolitano.
E o que propôs o Jeffrey? Apostem no
investimento, combinem as ações do Estado, da Sociedade Civil e do Mercado como
vocês sabem fazer melhor do que ninguém, inovem, partilhem visões de futuro e
não acrimónias sobre o passado, voltem a tentar definir uma Constituição que
vos dê unidade na ação sem exigir a unanimidade em cada momento, resolvam
rápido os pequenos problemas porque é nesses que se ganha balanço para
enfrentar os maiores, ajudem os refugiados sobretudo a poderem voltar em paz á
sua terra, lutem por uma regulação global das regras fiscais e financeiras.
Eis em síntese um programa possível
para a UE. Um programa com algumas dimensões polémicas mas estimulante. Jeffrey
Sachs propõe este programa porque acha que a UE é capaz de o cumprir, enquanto
na UE poucos arriscariam propô-lo, porque visto de dentro ele parece um
programa impossível.
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