Razão Global (A Globalização e o Brexit)
2016/06/26 09:46
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Muito tem sido escrito sobre o referendo no Reino Unido que visou
decidir a sua permanência na União Europeia.
Muito se escreveu antes, muito
se escreveu depois e muito se vai continuar a escrever, porque o tema é de
enorme complexidade e nele convergem todos os temas chave sobre o futuro da
Europa e do mundo.
Olhando com algum detalhe para a segmentação do voto, percebemos que a
escolha de sair da União Europeia foi tomada pelos mais pobres, pelos mais
velhos e pelos menos qualificados. Em contrapartida os mais inseridos
profissionalmente, os mais jovens e os melhores posicionados em termos de
rendimentos votaram maioritariamente por ficar na União.
Estes factos levam-me a considerar, reconhecendo tratar-se de uma
simplificação, que além de tudo o mais, foi a globalização desregulada que foi
julgada no Reino Unido e foi ela a causa e a justificação final do resultado
verificado, com a agravante de, em minha opinião, a resposta dos deserdados
dessa globalização, ter sido contrária aos interesses que queriam defender.
A globalização criou, sobretudo na Europa, um mundo fragmentado entre
cidadãos que sobrevivem e prosperam nesse mundo global, trabalhando em setores
e negócios sem fronteiras, dispondo de competências linguísticas e digitais que
lhe permitem criar valor onde surgem as oportunidades, e cidadãos que tendo
competências tradicionais e desajustadas, se vêm sujeitos à pressão da
concorrência direta por migrantes mais bem qualificados ou menos onerosos para
quem contrata e pela deslocalização de muitos serviços e indústrias para zonas
emergentes do planeta, onde as condições sociais e ambientais são menos respeitadas.
Esta situação é profundamente injusta e frustrante, quer para os
excluídos da globalização desregulada, quer pelos que são explorados por ela. O
desafio, como já aqui escrevi muitas vezes, é tentar regular a globalização,
torná-la mais focada nas pessoas e na sustentabilidade do planeta, aplicar os
Acordos de Paris e dar corpo à visão inspiradora do Papa Francisco e de outros
líderes políticos e religiosos que pugnam por uma sociedade aos serviço do
Homem e não ao serviço dos interesses egoístas e da especulação financeira
global.
Muitos dos que votaram pela saída do Reino Unido da UE votaram contra a
globalização sem rosto humano e sem regras justas. Respeito o seu voto, mas
erraram o alvo. É que se há esperança em mudar essas regras, ela parte em larga
medida da visão mais humanista e sustentável do projeto europeu, quando
comparado com a realidade de outros espaços e modelos económicos.
Enfraquecer o projeto europeu é dar um passo atrás na regulação da
globalização. Um passo atrás naquilo em que muitos no Reino Unido e na União
Europeia desejam dar um passo em frente. É dentro da UE que temos que lutar por
um mundo melhor. Não é por acaso que os interesses mais obscuros do mundo
mostram tanto empenho em minar o projeto europeu.
A razão global tem que ser explicada de forma simples aos povos
europeus e aos povos do mundo. Para que possam fazer escolhas livres e
conscientes. Para que não decidam contra si, quando desejam profundamente
decidir a seu favor.
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