A Queda de Um Mito
2013/03/17 11:56
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Para mim desde há muito tempo que a receita económica aplicada por
Passos Coelho e Vitor Gaspar é um erro extremo. Na minha primeira intervenção
na Assembleia da República, feita nesta legislatura enquanto líder parlamentar
do PS e na presença do governo, alertei para a contradição de termos uma
governação que tinha como estratégia implícita empobrecer o seu povo. Nessa
intervenção chamei à atenção pela primeira vez para o perigo da espiral
recessiva que se estava a provocar. Estávamos em Outubro de 2011.
Depois disso os sintomas só se agravaram. Na intervenção que fiz no dia
25 de Abril de 2012 instei o governo a arrepiar caminho e explicitei que a
teimosia nos poderia conduzir ao desastre e a uma rotura democrática. Não
arrepiaram e o desastre é hoje pleno. A rotura democrática também. Ou o Governo
recua depressa e muda as escolhas de forma drástica ou não terá futuro.
Com os resultados da 7ª avaliação da troika assistimos à queda de um
mito. Para a generalidade dos portugueses tratou-se da gota de água que fez
transbordar o copo. Já dificilmente encontro alguém convencido que com a
obstinação e a teimosia de Pedro Passos Coelho, Portugal possa fazer face à
enorme crise que o assola.
Mas esta sétima avaliação não fez apenas cair o mito do bom governo, já
muito frágil e contestado. Fez cair o mito da capacidade técnica e política de
Vitor Gaspar, cuja reputação sobreviveu alguns meses ao descalabro
governamental.
O todo-poderoso Ministro das Finanças falhou em toda a linha. A sua
subserviência à agenda alemã de nada lhe valeu no momento da verdade. Não
acertou uma previsão, não teve sucesso numa política, falhou para pior todos os
resultados e mesmo as bandeiras com que a acena (o controlo da balança comercial
e a redução do deficit primário) são puros efeitos colaterais do empobrecimento
generalizado do País.
Vitor Gaspar é uma personalidade de excelente trato, esforçado e
acredito que bem-intencionado. Falta-lhe no entanto a humildade para
compreender que o caminho escolhido não é apenas uma opção ideológica. É um
passo para o abismo social e económico. Um abismo onde caiu o governo, onde
caiu Vitor Gaspar, onde caíram muitos portugueses e onde pode cair Portugal.
Foi estrondosa a queda do mito.
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