Marasmo?
O título desta crónica apenas é inovador no ponto de interrogação. Certamente influenciados pela estação do ano em que estamos, embora não faltem pelo mundo e pela nossa terra assuntos de grande importância e impacto para abordar, um significativo numero de colunistas da nossa imprensa escrita e digital têm usado a ideia de “marasmo” ou opções similares para caracterizar uma contexto em que o Governo definiu um caminho sólido para a recuperação da pandemia, alicerçado em parte no Programa de Recuperação e Resiliência que conquistou em Bruxelas e em que as oposições não demonstram ter uma alternativa viável a esse caminho.
Eu próprio, em texto recente, que intitulei pela positiva “sinais vitais”, puxei pela forte mobilização de proximidade que as eleições autárquicas representam e apelei a uma participação intensa não apenas dos muitos milhares de portuguesas e portugueses que que são candidatos em todo o território nacional, mas também dos eleitores em geral, como um antídoto potente para fazer face a um certo distanciamento político que pode emergir dos outros distanciamentos, num sintoma generalizado a que a democracia portuguesa não está imune.
Quanto mais os fazedores de opinião insistirem na ideia de marasmo, seja ele real ou apenas uma perceção fugaz resultante de um contexto específico, mais alguns cidadãos poderão ser tomados pela ideia, acomodarem-se nela e sentirem-se tentados a deixar as coisas fluir e a “esperar sentados” pela solução dos exigentes desafios que vamos enfrentar para conseguirmos recuperar dos impactos económicos, sociais e políticos que a pandemia causou e vai continuar a causar.
Com eleições autárquicas à porta, um novo orçamento para viabilizar e múltiplos programas de ação pública e privada a arrancar no terreno, não me parece elevado o risco de marasmo político. Mais preocupante é a eventual propagação de um marasmo de atitude entre as pessoas em geral, um desfalecer da vontade, um sentimento de indiferença ou de desprendimento.
Qualquer que seja a avaliação que cada um de nós fizer da rota traçada, temos que estar cientes que num mundo aberto e cada vez mais interligado, surgirão sempre fortessolavancos para os quais temos que estar preparados.
O marasmo como perceção geral é um risco. Como atitude individual ou coletiva é erro que pode ser fatal. Somos parte da solução. Não há boas respostas para os problemas,sem um forte compromisso de todos e de cada um de nós na sua identificação e no desenho e concretização do que for necessário fazer.