O Dono da Bola
2013/03/09 14:51
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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No dia 2 de Março e tendo em conta que
não existe na Assembleia da República uma solução maioritária que possa pôr fim
ao descalabro da atual governação, o povo passou a bola ao único pilar
institucional a quem poderia passar, ou seja, ao Presidente da República Aníbal
Cavaco Silva.
Cavaco Silva, eleito em votação direta,
nominal e universal é de pleno direito o “pivot” institucional da democracia
portuguesa.
Durante o seu mandato, o Presidente da
República em Portugal, tem o poder e o dever de fazer com a bola aquilo que
entende ser melhor para a equipa de todos nós. Dizer que uma vez eleito o
Presidente se esgota a maioria presidencial é mais a expressão de um desejo do
que a descrição duma realidade verificada.
No entanto os Presidentes não podem ignorar as
dinâmicas sociais e políticas que ocorrem durante o seu exercício. Mario Soares
e Jorge Sampaio deram disso, exemplos inolvidáveis, tão mais valiosos quando
operaram em sentidos contrários, Soares inviabilizando um governo da “sua
maioria” e Sampaio um da “maioria que não votou nele”.
Quem não se recorda do pontapé
fulminante com que Cavaco Silva marcou golo na baliza do Governo minoritário de
José Sócrates, traçando num simples discurso de posse o destino do governo em
funções?
Sejamos no entanto claros. O dono da
bola tem a legitimidade popular, mesmo quando o povo parece descontente com o
uso que ele tem feito dela. Por isso temos que aceitar a escolha de Cavaco
Silva, de jogar agora mais em contenção, lateralizando jogo, fazendo passes curtos,
ameaçando remates, mas evitando tanto quanto possível bater as redes de Coelho
e companhia.
Resta no entanto uma dúvida
fundamentada. Cavaco Silva faz contenção porque quer acabar o seu mandato sem
desempatar jogo, o que significa a eliminação da esperança para milhões de
portugueses, ou usa essa tática para não arriscar falhar e criar condições para
um remate sem defesa no momento mais oportuno?
Não sei responder a esta pergunta. Agora
que Aníbal Cavaco Silva atinge metade do seu derradeiro mandato, mantenho a
atitude institucional que sempre mantive. Ele é o Presidente que os portugueses
escolheram.
Eu não votei em Cavaco Silva, mas no dia
em que a maioria votou passei a respeitá-lo como o meu Presidente. O Presidente
de nós todos, que só se engrandecerá se ouvir o sentimento da maioria popular.
Um sentimento que é hoje tão forte e ruidoso que ninguém pode argumentar que o
não escutou.
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