Mística
2010/02/21 17:52
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Temos vindo a sobreviver a um dos invernos mais cinzentos de que tenho memória. Os dias andam tristes e as vidas amolecidas. É nestes tempos que mais falta nos faz o aconchego da mística, do sentido das coisas, da linha do tempo e da espiritualidade saudável.
Nos interregnos da caminhada, quando mesmo entre a multidão me sinto mais só, gosto de me refugiar entre um amontoado de livros um por uma razão ou outra ficaram guardados na minha memória, para sentir o pulsar das inquietações múltiplas, dos sentimentos cruzados, das dialécticas e dos debates que vão tecendo a malha dos tempos.
Foi nesse exercício que reencontrei um interessante livro de Jean Vernette publicado em 2002 (ano de falecimento do autor) numa obra que no seu título original em francês afirmava “o Século XXI ou será místico ou não será” e que a Editorial Notícias publicou em 2003, na colecção Sinal dos Tempos, com o título “Só a Religião salvará o século XXI”. Se a memória não me atraiçoa, inspirado por este livro já publiquei no DS uma crónica há alguns anos, versando o “regresso do sagrado” que nele se antevia.
Agora que o século começa a desenhar de forma mais clara os seus contornos, clivagens, conflitos e consensos, as ideias do teólogo francês parecem ganhar ainda mais actualidade e mesmo algum sentido premonitório, levando-me de novo a discorrer sobre o seu livro ainda que agora sob um ângulo diverso.
Prova da acuidade previsional do texto (publicado em 2002 e eventualmente escrito no final do século passado ou no alvor do século actual) de Vernette é este extracto extraordinário – “ A falência dos grandes sistemas ideológicos, a insatisfação ligada ao materialismo do quotidiano, um certo vazio político incapaz de fornecer razões para agir e esperar, a ausência de consenso sobre as grandes questões éticas, cavaram uma abertura no coração do homem do século XXI”.
Esta “abertura” é um desafio e uma oportunidade. Convoca cada um de nós para uma mais profunda procura interior e para uma busca permanente do sentido filosófico para a vida, ao mesmo tempo que exige das comunidades respostas capazes de garantia a sua solidez económica, social e ambiental, mas também de saciar as interrogações sobre a existência e promover a felicidade entre os que as integram.
Sem descurar a vida académica e mantendo sempre viva a curiosidade científica e a participação nas redes e nas expedições que buscam o saber, estou hoje motivado e mobilizado para uma missão política estimulante e muito exigente. Uma missão em se pode ser feliz, mas em que resta pouco tempo para estudar a felicidade (ou qualquer outro tema que não esse estimulante mundo da energia e da inovação).
A economia da felicidade é no entanto o tema de largo espectro com que procuro balizar as minhas actividades científicas e académicas e também sempre que possível as acções de cidadania e de partilha com os outros. Decidi escolher esse caminho e deixá-lo bem claro ao dedicar a lição de sapiência que tive a honra de proferir na sessão solene de abertura do ano lectivo de 2008/2009 na minha universidade (Universidade de Évora) ao tema da “Gestão da Felicidade”. É essa a mística que me conduz. É com ela que quero dar sentido à vida e sobreviver ao século e ao cinzentismo que o vai tolhendo.
Nos interregnos da caminhada, quando mesmo entre a multidão me sinto mais só, gosto de me refugiar entre um amontoado de livros um por uma razão ou outra ficaram guardados na minha memória, para sentir o pulsar das inquietações múltiplas, dos sentimentos cruzados, das dialécticas e dos debates que vão tecendo a malha dos tempos.
Foi nesse exercício que reencontrei um interessante livro de Jean Vernette publicado em 2002 (ano de falecimento do autor) numa obra que no seu título original em francês afirmava “o Século XXI ou será místico ou não será” e que a Editorial Notícias publicou em 2003, na colecção Sinal dos Tempos, com o título “Só a Religião salvará o século XXI”. Se a memória não me atraiçoa, inspirado por este livro já publiquei no DS uma crónica há alguns anos, versando o “regresso do sagrado” que nele se antevia.
Agora que o século começa a desenhar de forma mais clara os seus contornos, clivagens, conflitos e consensos, as ideias do teólogo francês parecem ganhar ainda mais actualidade e mesmo algum sentido premonitório, levando-me de novo a discorrer sobre o seu livro ainda que agora sob um ângulo diverso.
Prova da acuidade previsional do texto (publicado em 2002 e eventualmente escrito no final do século passado ou no alvor do século actual) de Vernette é este extracto extraordinário – “ A falência dos grandes sistemas ideológicos, a insatisfação ligada ao materialismo do quotidiano, um certo vazio político incapaz de fornecer razões para agir e esperar, a ausência de consenso sobre as grandes questões éticas, cavaram uma abertura no coração do homem do século XXI”.
Esta “abertura” é um desafio e uma oportunidade. Convoca cada um de nós para uma mais profunda procura interior e para uma busca permanente do sentido filosófico para a vida, ao mesmo tempo que exige das comunidades respostas capazes de garantia a sua solidez económica, social e ambiental, mas também de saciar as interrogações sobre a existência e promover a felicidade entre os que as integram.
Sem descurar a vida académica e mantendo sempre viva a curiosidade científica e a participação nas redes e nas expedições que buscam o saber, estou hoje motivado e mobilizado para uma missão política estimulante e muito exigente. Uma missão em se pode ser feliz, mas em que resta pouco tempo para estudar a felicidade (ou qualquer outro tema que não esse estimulante mundo da energia e da inovação).
A economia da felicidade é no entanto o tema de largo espectro com que procuro balizar as minhas actividades científicas e académicas e também sempre que possível as acções de cidadania e de partilha com os outros. Decidi escolher esse caminho e deixá-lo bem claro ao dedicar a lição de sapiência que tive a honra de proferir na sessão solene de abertura do ano lectivo de 2008/2009 na minha universidade (Universidade de Évora) ao tema da “Gestão da Felicidade”. É essa a mística que me conduz. É com ela que quero dar sentido à vida e sobreviver ao século e ao cinzentismo que o vai tolhendo.
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