Socialistas e com muita honra!
2014/10/31 17:35
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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O Primeiro-ministro Francês Manuel Valls
gerou polémica por ter questionado numa entrevista recente se faz sentido que o
Partido Socialista Francês (PSF) se continue a chamar socialista. Para aquele
dirigente do PSF a dimensão social não tem necessariamente que ser traduzida
pela expressão consagrada pela história. Exemplificou mesmo com o exemplo de
Inglaterra em que o Partido que empunha a bandeira do Socialismo Democrático se
designa de Trabalhista ou de Itália onde é simplesmente designado por Partido
Democrático (depois da descaraterização do Partido Socialista Italiano às mãos
de Bettino Craxi e dos seus seguidores).
Numa outra vertente da análise, Don
Tapscott num texto a propósito dos 20 anos do seu livro revolucionário sobre a
nova economia digital, insinuava que a apropriação do termo socialismo por Marx
e todas as correntes que dele derivaram deveria caducar, já que “socialista” é
a nova sociedade baseada em redes sociais cada vez mais fortes. O fim do
Capitalismo consumou-se. Em vez dele, alega Tapscott, surgiu um Capitalismo 2.0
que com as suas contradições deveria evoluir para um novo “socialismo” em rede
se o conceito não estivesse já “ocupado”.
Mais do que discutir as marcas é fundamental
discutir os conteúdos. No sul da Europa o socialismo tem uma longa tradição de
afirmação democrática face à emergência de Partidos Comunistas fortes e com
perfil autoritário. Por isso os Partidos que representam o socialismo
democrático e a social-democracia avançada devem continuar a chamar-se e a
assumir-se como Socialistas. O PS é uma grande força e uma grande “marca” da
democracia portuguesa e como tal deve continuar.
Existem contudo franjas da sociedade que
não se identificam com a delimitação psicológica traduzida pela marca histórica
da designação socialista ou que pretendem uma participação feita fora do quadro
da militância partidária tradicional.
A
sociedade em rede implica flexibilidade e coloca novos desafios de mobilização.
Não pode ser fechada nem conservadora no plano conceptual. O Partido Socialista
não se deve descaracterizar enquanto tal, aproveitando antes a força da sua
coesão para se abrir sem receios a parcerias que criem o espaço para uma
aliança progressista e transformadora em Portugal.
Uma aliança com a sociedade e com os seus
movimentos de cidadania ativa, cujos valores se compaginam com os valores do
PS. É um caminho que tem estado aliás a ser percorrido.
Socialistas e com muita honra. Tanta
honra quanto abertura para o diálogo com as forças progressistas da sociedade,
porque todos somos poucos para recolocar Portugal na senda do crescimento justo
e sustentável.
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