Sinais Positivos (Da ratificação de Paris à eleição de Guterres)
2016/10/08 09:06
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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O mundo está perigoso e pouco fiável. Diariamente, somos confrontados
com informação que nos dá conta de dramas e catástrofes um pouco por todo o
globo. Elas não cessam nem cessarão por nenhum milagre. As adversidades fazem
parte do nosso destino, multiplicam-se com o aumento da população mundial e são
cada vez mais divulgadas pelas redes globais de comunicação.
Obviamente, que por cada história trágica que conhecemos, haverá outra
de superação e afirmação da humanidade. As boas notícias e os bons sinais são
contudo mais difíceis de propagar e comunicar. Os dois acontecimentos em que me
vou focar neste texto foram no entanto largamente tratados nos meios de
comunicação social, mas pela sua importância vale a pena insistir na sua
importância e simbolismo.
Em primeiro lugar, com a aprovação pelo Parlamento Europeu de uma
resolução que permitiu à União Europeia ratificar o Acordo de Paris, atingiu-se
a base necessária para que ele entre em vigor. Designado normalmente como um
acordo contra o aquecimento global, a verdade é que para que as metas e os
compromissos de redução de emissões sejam atingidas, será necessária uma
mudança estrutural da economia mundial, dos modelos de vida nos países mais
desenvolvidos e das condições de vida nos que estão ainda abaixo dos padrões de
desenvolvimento que permitem uma vida digna aos seus cidadãos.
Essa mudança constitui uma enorme oportunidade para combater
desigualdades e desperdícios e para criar riqueza e emprego, procedendo à
transição para energias limpas e modelos sustentáveis de organização económica
e social.
Caberá à Organização das Nações Unidas (ONU) a tarefa de supervisionar
e dinamizar a aplicação do acordo. Em Estrasburgo foi Ban-Ki-Moon quem
representou a ONU, mas a sua aplicação em aplicação terá como grande timoneiro
o futuro Secretário-Geral António Guterres. A eleição de António Guterres como
Secretário -Geral da ONU é o segundo sinal positivo que queria destacar neste
texto. Positivo pelo perfil humanista, pela experiência e pela capacidade
demonstrada do indigitado. Positivo por terem falhado todas as tentativas de
manobrar e distorcer o método transparente da sua escolha. Positivo finalmente porque
é um enorme orgulho ter um Português a liderar a mais prestigiada instituição
de governação mundial.
Tive o privilégio de trabalhar de perto com António Guterres durante
muitos anos. Conheço bem as suas qualidades e enormes capacidades. Recordo-me
como defendia ainda no século passado a importância da governação global para
fazer face aos riscos da globalização não regulada. Agora é ele o protagonista.
Nada se consegue sozinho, mas termos alguém com a dimensão de Guterres à frente
da ONU, escolhido de forma transparente pela comunidade mundial, é um excelente
sinal.
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