Sinais Positivos (Da ratificação de Paris à eleição de Guterres)




O mundo está perigoso e pouco fiável. Diariamente, somos confrontados com informação que nos dá conta de dramas e catástrofes um pouco por todo o globo. Elas não cessam nem cessarão por nenhum milagre. As adversidades fazem parte do nosso destino, multiplicam-se com o aumento da população mundial e são cada vez mais divulgadas pelas redes globais de comunicação.

 

Obviamente, que por cada história trágica que conhecemos, haverá outra de superação e afirmação da humanidade. As boas notícias e os bons sinais são contudo mais difíceis de propagar e comunicar. Os dois acontecimentos em que me vou focar neste texto foram no entanto largamente tratados nos meios de comunicação social, mas pela sua importância vale a pena insistir na sua importância e simbolismo.

 

Em primeiro lugar, com a aprovação pelo Parlamento Europeu de uma resolução que permitiu à União Europeia ratificar o Acordo de Paris, atingiu-se a base necessária para que ele entre em vigor. Designado normalmente como um acordo contra o aquecimento global, a verdade é que para que as metas e os compromissos de redução de emissões sejam atingidas, será necessária uma mudança estrutural da economia mundial, dos modelos de vida nos países mais desenvolvidos e das condições de vida nos que estão ainda abaixo dos padrões de desenvolvimento que permitem uma vida digna aos seus cidadãos.

 

Essa mudança constitui uma enorme oportunidade para combater desigualdades e desperdícios e para criar riqueza e emprego, procedendo à transição para energias limpas e modelos sustentáveis de organização económica e social.

 

Caberá à Organização das Nações Unidas (ONU) a tarefa de supervisionar e dinamizar a aplicação do acordo. Em Estrasburgo foi Ban-Ki-Moon quem representou a ONU, mas a sua aplicação em aplicação terá como grande timoneiro o futuro Secretário-Geral António Guterres. A eleição de António Guterres como Secretário -Geral da ONU é o segundo sinal positivo que queria destacar neste texto. Positivo pelo perfil humanista, pela experiência e pela capacidade demonstrada do indigitado. Positivo por terem falhado todas as tentativas de manobrar e distorcer o método transparente da sua escolha. Positivo finalmente porque é um enorme orgulho ter um Português a liderar a mais prestigiada instituição de governação mundial.

 

Tive o privilégio de trabalhar de perto com António Guterres durante muitos anos. Conheço bem as suas qualidades e enormes capacidades. Recordo-me como defendia ainda no século passado a importância da governação global para fazer face aos riscos da globalização não regulada. Agora é ele o protagonista. Nada se consegue sozinho, mas termos alguém com a dimensão de Guterres à frente da ONU, escolhido de forma transparente pela comunidade mundial, é um excelente sinal.      

   
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