Tesouradas Deprimentes
2013/10/13 11:41
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Desde o inicio do ano que o Governo se
comprometeu a apresentar um guião de Reforma do Estado, ou seja, uma
reformulação do modelo de prestação dos serviços públicos que permita manter ou
melhorar a sua qualidade, com menos desperdícios, usando as novas tecnologias e
dando conteúdos funcionais mais mobilizadores e produtivos aos servidores do
Estado.
Foram já vários os Ministros encarregues
de fazer o plano. Nos últimos meses a tarefa ficou com Paulo Portas.
No momento em que escrevo este texto o
governo ultima o Orçamento de Estado para 2014, cheio de tesouradas deprimentes
nos mais frágeis e carenciados, mas do famigerado guião nada se sabe (diz-se
que tem cinco páginas manuscritas numa viagem de avião, mas isso deve ser contra
- informação duma das tendências do governo mais balcanizado da nossa
história).
Em vez do guião da Reforma do Estado o que
temos são encerramentos a eito das repartições de finanças, de extensões de
saúde, de tribunais e de outros serviços de proximidade. Cortes nas pensões dos
funcionários públicos e nas pensões de viuvez. Aumentos de impostos e reduções
salariais. Aumentos unilaterais de horários e despedimentos encapotados.
Estas tesouradas reduzem drasticamente o
rendimento disponível das famílias e provocam outros cortes em cadeia. Fecha,
farmácias e cada vez mais utentes não têm dinheiro para aviar as suas receitas.
Fecham cafés, mercearias, lojas de confecções, restaurantes e empresas
fornecedoras destas indústrias enviando para o desemprego milhares de pessoas.
A generalidade das Instituições Privadas
de Solidariedade Social (IPSS) está em profunda asfixia financeira. Quase 7000 jovens
esforçaram-se para entrar na Universidade, conseguiram, e depois não tiveram
dinheiro para a matrícula e outros custos associados ao ensino superior.
A medida do corte fiscal para novos investimentos
anunciada com pompa e circunstância não atraiu um cêntimo. Quem investe por um
corte fiscal num semestre sem nenhuma perspectiva de segurança de médio e longo
prazo?
Escrevo este texto com a secreta
esperança que o OE que aí vem me obrigue a desdizer-me. Mas sou sincero. É uma
esperança tão secreta, tão secreta que é tão provável que aconteça como é
provável que finalmente o governo apresente um programa de Reforma do Estado
que não seja apenas a poda aleatória dos ramos que estão mais a jeito e podem
barafustar menos.
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