Medir o Bem Estar
2016/05/07 10:09
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Se nos situarmos no início do século em que vivemos e analisarmos as
previsões que então se desenharam para os anos seguintes, percebemos como é
difícil antecipar o futuro num mundo cada vez mais globalizado e complexo.
A evolução tecnológica seguiu
uma linha consistente, mas a sua tradução no desenvolvimento, na criação de
emprego, na redução da pobreza e no bem-estar das pessoas ficou muito aquém das
expectativas. Perdeu também fulgor a ideia de que a um certo declínio do
ocidente corresponderia um extraordinário fulgor dos países emergentes.
Estudos recentes, com o valor
relativo que todos os estudos prospetivos já demonstraram ter, atrevem-se a
falar do século XXI como o século da estagnação e do crescimento zero. As
estatísticas são o que são. O crescimento zero convive bem com uma elite cada
vez mais rica e uma enorme massa de seres humanos cada vez mais pobres. Mas
essa situação é indigna e insustentável.
Precisamos de mudar a perspetiva. A competição global pela criação de
Produto Interno Bruto (PIB) não parece abrir grandes horizontes. Todos os
Países querem criar riqueza exportando e cada vez menos têm a capacidade de
absorver essas exportações. A competição
torna-se feroz e as pessoas, quando não podem ser substituídas por máquinas,
são exploradas de forma atroz. Os recursos são também depauperados. O medo toma
conta da vida quotidiana. Urge retomar a esperança, mas como?
Há largos anos que a OCDE (Organização para o Comércio e o
Desenvolvimento Económico) vem trabalhar na ideia de substituir o PIB por um
indicador de bem-estar. Talvez não seja fácil criar indefinidamente mais
riqueza, mas se distribuirmos e gerirmos melhor a riqueza que criamos e a forma
como a criamos, poderemos viver todos melhor.
Numa estimulante apresentação feita no Parlamento Europeu, Enrico
Giovannini, Professor da Universidade de Roma, ex-Diretor chefe do serviço de
Estatísticas da OCDE e ex - Ministro do Trabalho e Políticas Sociais do Governo
Italiano, propôs à UE que fosse pioneira em duas decisões políticas.
A primeira decisão seria criar uma comissão alargada para desenhar uma
política de desenvolvimento sustentável para a UE em troca da atual política de
austeridade e asfixia económica e social. A segunda é tornar a UE pioneira no
desenvolvimento e aplicação de um indicador sustentável e equitativo de
bem-estar para substituir o Produto Interno Bruto.
Tive oportunidade de participar num grupo de trabalho liderado por
Giovannini quando este estava na OCDE. Sei bem como estas propostas são mais
fáceis de formular do que de concretizar. Mas as perspetivas de futuro tal como
as podemos ver hoje, convidam-nos a ser ambiciosos e capazes de fazer roturas
se necessário.
Medir o bem-estar, para promover a qualidade de vida em vez da
competição desenfreada é uma ideia que vale a pena reter e tentar viabilizar.
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