Ligar Gaspar à Ficha
2013/05/25 18:00
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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A siderurgia nacional ameaça
deslocalizar-se para Espanha porque já não suporta os custos da energia em
Portugal. No meu dia-a-dia encontro muitos pequenos empresários que me dizem
que os seus negócios se tornaram insolventes porque para além da subida brutal
dos impostos e da descida da procura interna, a fatura energética quase
duplicou. Os empresários de sucesso, mesmo mantendo com espírito patriota o
centro da sua atividade em Portugal são cada vez mais levados pelo choque
eléctrico e pela explosão dos preços dos combustíveis a produzir o mais
possível fora do País. Com estas dinâmicas perdem-se receitas, exportações e
sobretudo empregos.
Fui Secretário de Estado da Energia e da
Inovação entre 2009 e 2011 e tenho muito orgulho no trabalho que pude
desenvolver. Por ter tido essa tarefa tenho evitado regressar a este tema na
minha ação política quotidiana.
Acresce que considero o atual Secretário
de Estado da Energia uma personalidade idónea e competente que se melhor não
faz é porque para isso não tem o peso político necessário. Mas a situação no
terreno atingiu uma gravidade que não me permite continuar calado, sobretudo no
momento em que se anunciam novas taxas e empolgamentos nos preços.
O deficit tarifário (O que os
consumidores devem aos incumbentes) que era de 1800 milhões de Euros em 2011 já
ultrapassou os 4100 milhões de Euros. O apoio às energias renováveis e aos
novos modelos de consumo como a mobilidade elétrica foram vítimas dum
curto-circuito político. A travagem da atividade económica fez disparar os
custos unitários de infra-estrutura. A fiscalidade directa sobre a eletricidade
subiu 17% prejudicando sobretudo os serviços de entrega final incapazes de
incorporar competitivamente nos preços a nova sobrecarga. As taxas para os
Municípios, que em certa medida se justificavam ser pagas pelos contribuintes
pelo fato de terem uma fiscalidade mínima mantiveram-se com a transição para a
fiscalidade máxima. Aos 23% de IVA somam-se assim os 10% para os Municípios e
outros custos de interesse geral, dos quais só os que têm impacto directo na
produção endógena de energia têm verdadeiro retorno e justificação.
O nosso equipamento de produção de
energia mais limpa, de que as centrais de ciclo combinado são um bom exemplo,
está subaproveitado a menos de um quinto da sua capacidade. O Plano Nacional de
Barragens hibernou. Portugal voltou à era do carvão no seu sistema energético!
Uma era do carvão que em muitos Países significa uma energia suja mas barata,
mas que aqui é suja e ao preço do ouro!
Santos Pereira não tem poder. Gaspar só
quer cobrar, custe a quem custar e destrua-se o que se destruir. É por isso
tempo de ligar Gaspar à ficha para que ele possa sentir como dói o choque do
preço da energia. Se o não fizermos a nossa economia pode finar-se de vez. E
não convém!
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