Domar o Plástico
2018/10/27 09:18
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Poucas inovações tiveram tanto impacto no quotidiano da humanidade como teve e continua a ter o Plástico. Desafio os leitores a verificarem, no preciso momento em que o estão a ler este texto, quantos objetos de plástico o rodeiam e contribuem de forma direta ou indireta para criar as condições para que possa proceder a essa leitura. O plástico é um parceiro silencioso que está presente em quase todos os momentos da nossa vida.
A utilidade do plástico associada às suas características de durabilidade e adequação a usos múltiplos facilita a vida à humanidade e promete para breve utilizações ainda mais avançadas, mas a acumulação de resíduos começa a fazer nascer ao lado do sonho de progresso, o pesadelo de uma poluição insustentável.
Os factos não enganam. Um novo continente formado por resíduos de plástico flutua no pacífico. Cada vez mais marés de plástico assolam as praias em todo o mundo. São impressionantes as lixeiras a céu aberto que pululam sobretudo nos países com menos condições económicas para proceder à reciclagem ou ao acondicionamento dos resíduos dos plásticos.
Os números também não deixam dúvidas. O plástico constitui mais de 80% do total de resíduos no mar. Quase 50% do lixo que dá à costa na Europa é plástico. 91% dos plásticos usados e descartados no mundo não é tratado nem reciclado. Segundo as previsões dos cientistas, se nada for feito, em meados do século haverá mais plástico do que peixes no mar.
Não podemos continuar a ignorar este fenómeno. A Europa é o continente que mais recicla os plásticos usados (30%) mas tem que ir mais longe e dar o exemplo. Os caminhos a percorrer são claros. Apostar na investigação científica e na inovação para criar plásticos biodegradáveis e amigos do ambiente, combater os produtos plásticos descartáveis e de uso único e recolher e reciclar a maior percentagem possível dos resíduos, alimentando a cadeia de valor da economia circular.
A diretiva europeia dos plásticos foi fortemente reforçada, quer na ambição das metas de recolha e reciclagem, quer nas restrições impostas à produção, comercialização e uso de plásticos descartáveis.
As normas, os incentivos à sua aplicação e as sanções aos comportamentos ilegais são importantes para domar o mar, mas a mudança tem que começar com cada um de nós e com os nossos pequenos gestos quotidianos, dado que é também nesses gestos que mais usamos e descartamos para o ambiente quantidades enormes de plástico.
Caro leitor, quando iniciou a leitura deste texto desafiei-o a pensar como o plástico rodeia a sua vida. Procure dar-lhe um uso adequado. Use plástico descartável só quando não tiver alternativa. Recolha e envie os plásticos usados para a reciclagem. Domar o plástico é salvar o mar e o planeta.
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