Vagar
Desde o momento em que as Instituições Europeias, incluindo o Parlamento Europeu, definiram o calendário que atribuiu a Portugal, em conjunto com a Letónia, a possibilidade de terem uma das suas cidades designada como Capital Europeia da Cultura 2027, que defendi a enorme oportunidade que isso constituía para as cidades portuguesas desenvolverem projetos participativos de valorização e desenvolvimento, com forte impacto regional e inspirados numa visão lata do que é a afirmação cultural de um território. no quadro mais vasto de uma União de 27 países e muitos milhares de cidades.
Defendi também desde esse momento o enorme potencial que Évora, pela sua história e pela confluência de povos e culturas que a foram fazendo caminhar até aquilo que hoje é, tinha e tem, para depois de Lisboa em 1994, o Porto em 2021 e Guimarães em 2112 já terem sido Capitais Europeias da Cultura, representar agora Portugal, como ágora de um grande sul. Nesse sentido fiz vários apelos à constituição de uma rede criativa e participada que nos pudesse levar não apenas a competir pela nomeação, mas também a criar uma dinâmica de transformação na Cidade, no Concelho, no Distrito e na Região.
Doze cidades portuguesas concorreram à nomeação. Évora, juntamente com Ponta Delgada, Aveiro e Braga, foi selecionada para a lista final. Felicito a equipa que liderou e concebeu a candidatura e volto a apelar a uma mobilização geral para podermos ser a cidade vencedora. Chegámos até aqui mais pela capacidade criativa de quem desenvolveu o conceito do que pela capacidade mobilizadora de quem devia alargar a dinâmica participativa. O que foi feito, e bem, foi suficiente, para irmos à final, mas será preciso mais para cortarmos a meta em primeiro lugar. Chegou o tempo de avançar para um novo patamar de envolvimento e compromisso com a candidatura.
Avançar devagar para chegarmos depressa! O vagar que inspirou a candidatura e a fez vencedora não é o vagar de quem fica para trás ou de quem se esconde na moleza dos dias, mas antes o vagar de quem adquiriu em milénios de história o saber da escolha e a capacidade de se relacionar harmoniosamente com o tempo e o espaço.
Vivemos um tempo de vagas. Vagas científicas e tecnológicas, vagas pandémicas, vagas migratórias, vagas oceânicas mais fortes que nunca, vagas de informação e desinformação, vagas de solidariedade e de sofrimento. Vagar é conhecer a onda para conseguir tirar dela o melhor que ela tem. O prazer, a energia, a riqueza, a espuma reluzente ou marulhar relaxante. Haja vagar para sermos todos a fazer acontecer e esta vaga de enorme oportunidade.