Mediação (Sobre a narrativa em Política)
2010/01/23 22:55
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Uma sociedade relacional e interdependente como aquela em que vivemos é naturalmente uma sociedade de mediação. Os mediadores são fundamentais em muitos sectores económicos e sociais e os “media” garantem a acesso à informação, recurso e motor central da sociedade emergente. Em simultâneo os “médiuns” das mais diversas inspirações exploram o nicho de ligação do divino à emoção e ganham espaço no mercado da felicidade ou do combate à ausência de sentido para a vida.
Nesta sociedade de mediação, qual deve ser o papel dos lideres políticos, espécie que muitos consideram em extinção ou rápida perda de influência. Do meu ponto de vista a erosão da liderança, em particular das grandes lideranças políticas com impacto global, resulta dos protagonistas desvalorizarem o papel da narrativa como mediação entre o divino e a razão, dando ao divino e á razão uma interpretação de largo espectro onde cabem diversas crenças ou racionalidades.
Eu tenho um sonho … eu tenho um plano … este binómio tem sido sempre a chave da mobilização liderante ao longo da história. Mas hoje quem é o político que se atreve a proclamar um “sonho”, uma narrativa disruptiva e mobilizadora? Muito poucos de facto. Obama é a mais visível excepção e por isso vale a pena reflectir um pouco mais sobre o trajecto extraordinário desse homem, hoje o líder mais poderoso do mundo enredado na esquizofrenia que constitui a atribuição merecida do Prémio Nobel da Paz a alguém que por omissões diversas também tem que ser o polícia do mundo.
Aproveitando uma das minhas recentes viagens intercontinentais (que constituem um dos raros momentos em que hoje é possível desconectar da pressão do imediato e reflectir numa espécie de vácuo criador) e após ler um interessante ensaio sobre a solidão de Obama publicado na revista “Time”, dei comigo a pensar sobre se o medo da solidão não é o vírus que trava tantos líderes e tantas lideranças no mundo actual.
De facto o líder tem que ser um visionário e indicar um caminho ou uma narrativa que liga o divino á razão e a razão ao divino. Ora essa narrativa é uma mediação e não interpretação das forças, dos poderes ou das relações de proximidade. Muitas vezes a narrativa necessária fica na terra de ninguém e gera desconfiança de amigos e inimigos. O líder tem assim que ter uma força moral e anímica superior. Nem todos têm a força de Obama mas muitos mais “Obamas” eram precisos nos tempos turbulentos em que vivemos.
Menos “espirituais” que Obama na sua forma de estar e liderar, alguns outros líderes por todo o globo têm resistido a múltiplos ataques desmesurados no plano pessoal e político e posto em prática uma arrojada narrativa de modernização, baseada numa forte convicção, numa estratégia coerente e numa força anímica extraordinária. O primeiro ministro de Portugal é disso um excelente exemplo. Ser capaz de resistir e por em prática uma visão forte, é a marca indelével dos líderes que ficam na história, por boas ou por más razões.
Aprendo na minha vida pública a desconfiar de quem quer conduzir ou mobilizar o que quer que seja e não assume ter um sonho transformador e uma narrativa de mudança. Ou de quem sonha sem plano. Ou de quem planeia sem sonhar. Precisamos de mediadores fortes e competentes. São eles que fazem a diferença. É assim em tudo o que conta em sociedade e na política também.
Nesta sociedade de mediação, qual deve ser o papel dos lideres políticos, espécie que muitos consideram em extinção ou rápida perda de influência. Do meu ponto de vista a erosão da liderança, em particular das grandes lideranças políticas com impacto global, resulta dos protagonistas desvalorizarem o papel da narrativa como mediação entre o divino e a razão, dando ao divino e á razão uma interpretação de largo espectro onde cabem diversas crenças ou racionalidades.
Eu tenho um sonho … eu tenho um plano … este binómio tem sido sempre a chave da mobilização liderante ao longo da história. Mas hoje quem é o político que se atreve a proclamar um “sonho”, uma narrativa disruptiva e mobilizadora? Muito poucos de facto. Obama é a mais visível excepção e por isso vale a pena reflectir um pouco mais sobre o trajecto extraordinário desse homem, hoje o líder mais poderoso do mundo enredado na esquizofrenia que constitui a atribuição merecida do Prémio Nobel da Paz a alguém que por omissões diversas também tem que ser o polícia do mundo.
Aproveitando uma das minhas recentes viagens intercontinentais (que constituem um dos raros momentos em que hoje é possível desconectar da pressão do imediato e reflectir numa espécie de vácuo criador) e após ler um interessante ensaio sobre a solidão de Obama publicado na revista “Time”, dei comigo a pensar sobre se o medo da solidão não é o vírus que trava tantos líderes e tantas lideranças no mundo actual.
De facto o líder tem que ser um visionário e indicar um caminho ou uma narrativa que liga o divino á razão e a razão ao divino. Ora essa narrativa é uma mediação e não interpretação das forças, dos poderes ou das relações de proximidade. Muitas vezes a narrativa necessária fica na terra de ninguém e gera desconfiança de amigos e inimigos. O líder tem assim que ter uma força moral e anímica superior. Nem todos têm a força de Obama mas muitos mais “Obamas” eram precisos nos tempos turbulentos em que vivemos.
Menos “espirituais” que Obama na sua forma de estar e liderar, alguns outros líderes por todo o globo têm resistido a múltiplos ataques desmesurados no plano pessoal e político e posto em prática uma arrojada narrativa de modernização, baseada numa forte convicção, numa estratégia coerente e numa força anímica extraordinária. O primeiro ministro de Portugal é disso um excelente exemplo. Ser capaz de resistir e por em prática uma visão forte, é a marca indelével dos líderes que ficam na história, por boas ou por más razões.
Aprendo na minha vida pública a desconfiar de quem quer conduzir ou mobilizar o que quer que seja e não assume ter um sonho transformador e uma narrativa de mudança. Ou de quem sonha sem plano. Ou de quem planeia sem sonhar. Precisamos de mediadores fortes e competentes. São eles que fazem a diferença. É assim em tudo o que conta em sociedade e na política também.
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