O Ocaso das Democracias
Nas ultimas semanas a ordem constitucional foi posta em causa por pronunciamentos militares no Níger e no Gabão. O índice comparado sobre a Democracia no mundo, publicado anualmente pela Revista Economist, que conjuga 60 indicadores, tem reportado sucessivamente um decréscimo do numero de Países que por todo o mundo e em particular em África e no Médio Oriente se podem qualificar como regimes democráticos, repartindo-se a maioria entre os regimes híbridos e os regimes autoritários.
A complexidade do mundo de hoje, a fluidez e a aceleração da informação, o crescimento atroz das desigualdades, o aumento dos fenómenos extremos e da conflitualidade, apelam mais às soluções providenciais do que aos modelos participados e transparentes de decisão. Não é aliás fácil discernir entre o “ovo e a galinha”, já que os poderes não legitimados que provocam grande parte dos problemas, encontram muitas vezes na resposta que dão a base da sua legitimação.
Há múltiplas teorias conspirativas sobre o ocaso das democracias, quem são os seus mandantes e a quem ele serve. Não podemos ignorar fenómenos de desinformação, manipulação e uso ilegítimo de recursos para promover o autoritarismo e o despotismo, mas também não devemos desistir de analisar criticamente a democracia que temos e procurar torná-la mais resiliente e resistente aos seus inimigos.
Não há dois países, duas culturas e duas sociedades iguais e por isso também não há duas democracias iguais, ou seja, dois modelos práticos idênticos para que os cidadãos possam exercer a soberania, mas é sempre possível e desejável melhorar, comunicar e partilhar um sistema que sendo imperfeito, Winston Churchill classificou como “o pior dos regimes, à exceção de todos os outros”.
Nos pronunciamentos recentes que referi no inicio deste texto vimos muitos jovens nas ruas a apoiar a mudança. Não há dois golpes iguais, mas normalmente eles tornam-se mais prováveis quando as sociedades estagnam, se cansam e se sentem amarradas a interesses ou a escolhas em que não se sentem parte.
A democracia tem que ser cada vez mais participativa, comunicada como algo que pertence aos cidadãos e que as instituições devem servir e partilhada como um modelo de diálogo e cooperação capaz de transcender fronteiras e culturas.
Com as crescentes desigualdades e iniquidades globais os povos anseiam por mudança. É preciso que a Democracia, que se bem praticada é o melhor sistema de transformação pacífica das sociedades, não seja ejetada com a “água do banho” de quem quer um mundo de “cara lavada”!